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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sensações e Sentimentos de (in)segurança

Debuto este artigo com uma pergunta provocadora: em qual cidade você se sente mais seguro, naquela com um policial em cada quarteirão ou naquela sem policial? Além de provocativa, esta pergunta é obviamente uma caricatura. Esses dois mundos extremos são inatingíveis, mas servem para nos orientar a direção a tomar. 

Quem tem a oportunidade de fazer uma viagem às cidades mais desenvolvidas do mundo, prova da sensação de segurança que se obtém sem nem mesmo ver um policial. O oposto absoluto do que vivemos aqui. Estamos em uma busca obsessiva por segurança que seria idealmente obtida com um policial a cada esquina. 

Por mais absurdo que possa parecer esse sentimento, o fato é que as políticas de governo têm se alimentado dessa obsessão e, por sua vez, tem realimentado a mesma nos dando mais e mais polícia e menos e menos segurança. Um dos efeitos colaterais disto foi sentido recentemente quando da greve da Polícia Militar. Os cearenses, alimentados pelo Ronda do Quarteirão, que lhes deu uma sensação de segurança baseada na presença ostensiva de policiais, perceberam o quanto ela era frágil.  

O episódio da greve deve servir para nos fazer refletir não só sobre a sociedade que queremos ter, mas também sobre a que queremos sentir. Queremos mesmo sentir que vivemos em uma sociedade prestes a explodir em arrastões e saques aos roldões (prova é, que o comércio fechou as portas)?

Eu não quero.  Prefiro viver em uma sociedade em que não seja natural acreditar que as pessoas necessitam a todo instante violar o direito dos outros para subsistir. É a mesma sociedade em que as pessoas caminham tranquilamente nas ruas e sem um policial ao lado. Para que isso aconteça temos que pensar em um novo modelo de segurança pública mais amplo e que não ofereça só mais do mesmo: repressão. Um novo modelo que consiga unir a sociedade em torno de uma cultura de paz, convivência solidária e cordialidade. O modelo atual, embora nos leve à sensação de segurança momentânea não consegue impedir que nos tornemos reféns do medo que sentimos da própria sociedade.   


* Artigo publicado hoje no Jornal O Povo, coluna Opinião

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