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segunda-feira, 18 de abril de 2011

FHC em sua Plenitude


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu um extenso artigo semana passada  que li e reli. Acessem-no integralmente aqui. Trata-se de um artigo denso, muito bem articulado e cheio de reflexões inteligentes, provocadoras e instigantes. De tão instigante, alguns políticos de seu próprio partido vieram a público para se posicionar contra. Infelizmente FHC parece achar possível escrever somente como sociólogo e não mais como ex-presidente. Isso é impossível. Esquece (ou não se incomoda) de que é difícil lê-lo sem paixão. Ao não perceber isso, exagera na exposição e fica vulnerável à mesquinhez que predomina no jogo político nacional.

Independente disso, eu acho que, na época atual, onde a mesmice intelectual prevalece na política, FHC é um dos poucos que consegue quebrar essa monotonia. Primeiro veio sua defesa da descriminalização dos usuários de droga, agora vem esse artigo de diretrizes de uma nova política. Sua imagem, no entanto, é muito desgastada. Lula conseguiu desconstruir FHC e, aliás, ainda o faz. Sobre esse artigo em particular, ele fez logo uma interpretação simplória, quase maldosa, de que FHC estava sugerindo esquecer o povão. Chegou a dizer “não sei como alguém estuda tanto  para dizer que devemos abandonar o povão”. 

FHC não queria desprezar o povão e é simples perceber isso (se for lido sem paixão e honestamente). O que ele disse claramente é que o Brasil está se tornando um País de classe média. Que classe média é essa? O que ela vai defender? Quais são os valores que vão caracterizá-la?  Há um enorme espaço político para oposição, se conseguir capturar e seduzir essa classe. FHC considera que o povão é muito  identificado (mesmo cooptado e aparelhado) com o governo Lula, PT e Dilma, mas o primordial é de que essa massa será menos determinante (em termos quantitativos) nas eleições. Já somos em torno de cem milhões de classe média. Senão vejamos o que ele escreveu em um trecho do artigo:
Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à ti (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova classe média.
Concordando-se com esse diagnóstico, vem logo o segundo aspecto: não será mais fundamental enfatizar nas políticas compensatórias nascidas ainda em seu governo e implantadas com a dimensão massiva que marcou o governo Lula.  Mostrando estar antenado com o que acontece no mundo virtual, ele se refere às novas formas de participação popular e formação de comunidades e redes sociais.
Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.
Ainda sobre as redes sociais,
No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatórios irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um “curto-circuito” e o que parecia não ser “política” se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das “diretas já”?
Como disse antes, o artigo de FHC é extenso e poderia ser sublinhado em diversos pedaços. Suas ideias merecem ser debatidas, concordemos ou não com o que ele professa, mas admitamos que nos dias atuais suas ideias são o pouco de instigante que nasce da oca política brasileira. O PSDB então deveria logo se apropriar de muito exposto por FHC, senão “outro vem e come”. 

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