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quarta-feira, 30 de março de 2011

WikiCrimes com Novas Manchas

Mais novidades de WikiCrimes foram lançadas essa semana. Vejam abaixo a nova forma de mostrar as áreas perigosas chamadas de hot spots. Usamos um mapa com várias cores para realçar os espaços mais perigosos (espaços mais avermelhados). Trata-se de uma contribuição substancial de Victor Basso, aluno de graduação da UNIFOR, e que tem gradativamente se especializado em programar mapas de manchas.

terça-feira, 29 de março de 2011

Carta aos Secretários de Segurança do Brasil

Na semana passada enviei uma carta a cada um dos Secretários de Segurança do País. Na carta apresento WikiCrimes e proponho várias formas de parcerias. Decidi torna-la aberta a todos através do blog. Agradeço o apoio de quem puder intermediar formas de aproximarmos WikiCrimes do sistema oficial de coleta de dados criminais.



Ilmo. Sr. Secretário de Segurança

Venho através desta apresentar ao Sr. o projeto WikiCrimes com o objetivo de propor e solicitar formas  de colaboração desta Secretaria no projeto. Wikicrimes (http://www.wikicrimes.org) é um software gratuito e de utilidade pública na internet que permite o acesso e registro de ocorrências criminais no computador diretamente em um mapa digitalizado. Ele está sendo desenvolvido sob minha coordenação e tem a mesma filosofia da enciclopédia eletrônica Wikipédia.
Alguns Estados já começam a publicar seus dados para uso da população e WikiCrimes apresenta-se como ferramenta para este fim. Trata-se de um projeto de cidadania com a completa consciência de que não se pode, nem se deseja, substituir as autoridades de segurança. O fato de se registrar uma ocorrência em WikiCrimes não exime o cidadão de fazê-lo também nas organizações de segurança responsáveis. Na verdade, considero fundamental agir em parceria com os órgãos oficiais e assim identifiquei algumas possibilidades de cooperação com esta Secretaria. Acredito que o crescimento da comunidade WikiCrimes que hoje já conta com mais de 10.000 pessoas, abrirá a possibilidade de comunicação com o cidadão e que os organismos de segurança poderão se beneficiar disso. Dentre as formas de cooperação imaginadas (não exaustivas) queria mencionar.
  • 1)   Apresentar os dados de ocorrência criminal coletados por esta secretaria para dar transparência ao cidadão de onde o crime ocorre a partir de dados oficiais.  Trata-se aqui de começar no País um programa de dados abertos similar ao que acontece na Grã-bretanha (http://www.police.ouk) e Estados Unidos (http://www.data.gov).
  • 2)   Colocar fotos ou até vídeos (em cenas de delitos, por exemplo) de pessoas procuradas pela polícia em WikiCrimes juntamente com a informação sobre os delitos que eles estão sendo acusados no mapa digitalizado. Desta forma os internautas que consultarem o sistema poderão ajudar no reconhecimento de suspeitos.
  • 3)   Colocar fotos e informações de pessoas desaparecidas fornecidas pelo cidadão e por esta secretaria.
  • 4)   Colocar um link para a delegacia eletrônica (caso ela exista) desta secretaria de forma que o internauta seja informado da existência da mesma e realize o registro oficial do crime.
  • 5)   Colocar informações e dicas de segurança no site de forma a auxiliar o cidadão em sua vida cotidiana. Isso poderia ser feito diretamente nos registros de crimes mapeados em WikiCrimes o que seria uma forma de comunicação direta com o cidadão.
  • 6)   Registrar ocorrências de prisões em flagrante realizadas por esta secretaria com a completa descrição da ação policial e do fato ocorrido.
  • 7)   Disseminar WikiCrimes nos conselhos de defesa social (ou similares) para motivar a participação da sociedade na notificação de crimes e problemas encontrados nas áreas das mesmas.
  • 8)   Mapear as delegacias de policia do Estado de forma que ao registrar um fato criminal no telefone celular (versões para iPhone e Android disponíveis) possamos sugerir a delegacia mais próxima para fazer o registro.

Vale ressaltar que independentemente de qualquer das formas de cooperação que essa secretaria deseja ter com WikiCrimes, os dados registrados em WikiCrimes são de livre acesso do cidadão e conseqüentemente desta Secretaria de Segurança. Espero que os mesmos sejam úteis para o planejamento da ação policial, análise de vitimização, cálculo de subnotificações e qualquer outro objetivo que esta Secretaria vislumbre.
Esperamos criar uma comunidade nacional de participantes em WikiCrimes e contamos ter esta digna instituição como parceira nesse processo. 

Cordialmente,

                                   Vasco Furtado
                         Prof. Doutor da Universidade de Fortaleza
                                     Idealizador de WikiCrimes

segunda-feira, 28 de março de 2011

La Machine à Voyager

Vejam esse vídeo de promoção da SNCF (a empresa de transporte ferroviário da  França). Achei muito estranho que nenhum dos entrevistados não tivesse mencionado "Brésil!". Mas é porque vir de trem fica difícil, não é !? :-((

sábado, 26 de março de 2011

Policial Espantalho III

Vou voltar a um tema que já foi objeto de minhas reflexões algumas vezes aqui e aqui: a postura de policiais que fazem patrulhamento a pé.

Estava eu novamente no meu laboratório social semanal :-)), a Beira-Mar de Fortaleza, caminhando, quando realizei minhas habituais observações. A Beira-Mar possui inúmeras placas indicando que é proibido andar de bicicleta no calçadão. Possui igualmente várias duplas de policiais destinadas a fazer o patrulhamento da região.

Um certo momento de minha caminhada convergirmos: três pessoas que usavam bicicletas em direções opostas (duas em uma direção e uma em outra), eu, outros transeuntes e uma dupla de policiais, que conversava tranqüila e distraidamente. Estávamos exatamente em frente a uma das placas que indicava a proibição. Não consegui me conter.

Fui aos policiais e os perguntei-lhes se sabiam que era proibido trafegar de bicicleta na área. Percebi o quanto ficaram surpresos com a questão. Acenaram afirmativamente com a cabeça. Continuei dizendo que tinha certeza de que eles sabiam até porque tinha uma placa na frente deles. Não conseguiram dizer nada mais. Não valia a pena insistir.

Policial Espantalho II

O texto anterior exemplifica as deficiências do policiamento do Ronda Quarteirão em uma cena cotidiana que eu mesmo havia presenciado. Mencionei o quanto a aparente simples tarefa de patrulhamento a pé requer uma postura observadora, proativa e, acima de tudo, atenta. Algo raro de se conseguir e que pouco tenho visto nas polícias brasileiras de uma forma geral.  

Não pensei que teria um exemplo tão marcante para ilustrar o que venho dizendo. Na semana passada três guardas do Ronda Quarteirão (nome do batalhão dito de policiamento comunitário do Estado do Ceará) foram assaltados por dois homens em uma moto. Suas armas e coletes foram levados e os assaltantes, ainda hoje, não foram encontrados. Só tenho informações sobre o ocorrido através da mídia (veja matéria jornalística aqui), mas creio não ser exagero creditar as causas da ocorrência a despreparo dos policiais. Seria por demais simplista culpar especificamente os policiais em questão, bem como poderia ser leviano dizer que todos são assim. 

Mas acredito que fatos como esse ocorrem, dentre outras razões, pelo problema de postura que tenho apontado. Como justificar que policiais que estão em maioria possam ser rendidos dessa forma?  Tinham por obrigação apresentar uma postura observadora e atenta que certamente seria também preventiva. Não estamos falando de bandidos fortemente armados e em maior número e organização como as situações que as vezes presenciamos em grandes metrópoles brasileiras. Estamos falando de alguém que se aproxima dos policiais até o ponto de rendê-lo com uma arma na sua cabeça.

A ocasião é adequada inclusive para enfatizar um detalhe que deve pode ter passado desapercebido. Leiam o trecho abaixo
Quando o reforço policial apareceu, os bandidos já haviam ido embora levando uma pistola de calibre Ponto 40 (0.40) e um colete à prova de bala, ambos pertencentes à PM, e uma pistola de calibre 380 ACP, pertencente a um dos PMs, mas que ele, estranhamente, usava mesmo estando de serviço e fardado. O Comando do Ronda do Quarteirão foi avisado do caso e prometeu investigá-lo, mas, até a noite passada não havia sido descoberta nenhuma pista dos ladrões.
A matéria do Jornal Diário do Nordeste diz que uma das armas roubadas foi um 38 que um dos policiais “inexplicavelmente”estava usando, visto que não se tratava de sua arma oficial. Porque um policial usaria uma arma extra àquela que a corporação lhe dá o direito de usar? Essa prática era comum tempos atrás e tinha fins nada louváveis, visto que elas eram usadas por policiais que não respeitavam os direitos humanos. Um batalhão, dito de policiamento comunitário e formado em sua maioria por jovens policiais, pode aceitar esse tipo de prática? 

Policial Espantalho I

Este texto havia sido publicado há cerca de um ano atrás em outro blog que foi desativado e me fez perder uma centena de postagens que nele havia feito. Dentro do possível, vou reproduzí-los aqui, para efeito de registro.


Já escrevi sobre o quanto precisamos avançar em termos de qualificação policial não só em relação à postura quanto aos direitos humanos, mas igualmente à postura quanto à ação policial em si. Muitas vezes são coisas tão simples, mas que indicam tanta coisa. 

Tenho exercitado um hábito simples de sempre observar a postura de policiais que fazem patrulhamento a pé. Nas mais diferentes cidades, procuro conversar com policiais, pedir informações ou simplesmente observá-los como se postam nas ruas. Acredito que o simples patrulhamento a pé é uma amostragem da qualidade do policiamento de uma região e mesmo de uma cidade. Não é a toa que as brasileiros se impressionam tanto quando vão a Inglaterra. Os guardas de rua lá passam todo o seu tempo de patrulha, digamos, patrulhando. Pode parecer algo óbvio o que estou dizendo, mas infelizmente nossa cultura está mais para o que o ex-secretário de Nacional de Segurança Pública chama de “policial espantalho”.

Os policiais, andam sempre em dupla, posicionam-se no local a ser patrulhado e pronto. Só isso. Não ocupam o espaço. Diminuem-se. Ficam quase invisíveis. A conseqüência disso é que todo tipo de ilegalidade ocorre a cada segundo na frente dos mesmos e eles nada fazem. É como se as ordens que recebessem (se as receberam) fossem simplesmente no intuito de ficar naquele ponto e pronto.  Se alguém chamar ou inquirir, pode até responder, mas em caso contrário, fique quieto. 

Deixem-me exemplificar o que digo, com o que observei nesse fim de semana na Beira-mar de Fortaleza cedo pela manhã. Conversava com amigos após uma corrida na praia e observei como os dois policiais do Ronda se portavam. Estavam os dois de costas para a rua conversando descontraidamente. Naquele mesmo instante em que observávamos a postura dos mesmos, um carro estacionou bem na esquina atrás dos mesmos do outro lado da rua.  Uma clara e evidente violação da lei de trânsito. Um dos amigos que estava comigo logo observou que aquilo iria trazer enormes problemas para os ônibus de turismo que dobravam naquela esquina. Quase que imediatamente após esse comentário, um ônibus chegou. E aconteceu exatamente com o previsto. Ele não conseguiu fazer a curva e parou o trânsito. Vejam, o ônibus estava parado na rua quase em cima dos policiais que mantiveram-se de costas conversando tranquilamente e sem perceber o que se passava. Depois de uma série de manobras, o ônibus conseguiu desviar-se do carro (embora quase atropelasse os policiais J) e seguiu em frente. 

A cena deve ter se repetido com outros ônibus. Não ficamos para assistir. Interessante, é que outro amigo que estava comigo ainda tentou justiçar a postura deles. Não eram guardas de trânsito, disse. Mas são agentes da lei. Têm a obrigação de posicionar-se. Se estivessem patrulhando, bastava que dissessem ao motorista que não poderia estacionar ali. Evitaria a infração. Evidente, que espera-se que sejam firmes mas corteses. Aqui está outra grande dificuldade. Policiais, como agentes da lei, nem sempre agradam, sejam comunitários ou não, principalmente quando agem em um contexto onde o normal é infringir a lei. Ressalto que a polícia não tem o direito de agir de forma que desrespeite os direitos do cidadão. Agora, omitir-se nunca será a alternativa correta. Pequenos detalhes que podem nos dizer do muito que ainda precisamos fazer.

quinta-feira, 24 de março de 2011

WikiCrimes at PDF

This is my presentation at Santiago, Chile about WikiCrimes at the Personal Democracy Forum. It was the first time I had the opportunity to speak about the project outside Brazil.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Inovação e Cooperação Universidade-Empresa

Inovação é a palavra da vez no País e não poderia deixar de sê-la no Estado. O crescimento da economia e a conseqüente busca por competitividade obrigaram-nos a acordar para a necessidade de inovar. Naturalmente o tema sobre a necessária aproximação da academia com as empresas vem à tona. Vivemos, há não muito tempo, um dilema falso de que a geração de riqueza era dissociada do desenvolvimento científico. A veia humorística cearense quando expressa “não ficou rico porque decidiu estudar”, reflete um pouco desse sentimento.

O fato é que, agora que inovação virou moda, fica claro que o conhecimento científico é fundamental para a geração de riqueza. Pesquisadores são os parceiros ideais dos empresários na busca de inovação. Eles, por serem obrigados a estarem na fronteira do conhecimento, têm naturalmente a visão do que é novo.  Evidente que isso não exime o feeling que os empresários têm sobre se a ideia dá dinheiro. Por outro lado, a possibilidade de aplicar as pesquisas na sociedade e gerar benefícios em escala significativa fica potencializada com a participação da iniciativa privada. E isso pode dar, além de dinheiro, outra coisa altamente almejada por um pesquisador: reconhecimento.

Muito embora os benefícios da aproximação dos campos sejam facilmente demonstrados, é comum escutar visões estereotipados de um lado em relação ao outro e vice-versa. Isso tem conseqüência deletéria na almejada aproximação, pois elas pode ocorrer de forma bem mais natural se as partes passarem a conhecer melhor a agenda própria do outro. São mundos com lógicas próprias e objetivos que via de regra correm paralelamente e não necessariamente devem sempre convergir.

A agenda acadêmica, por exemplo, é bem ampla, pois envolve docência, extensão e pesquisa. Alem disso, não adianta pensar que tudo quanto é pesquisador deve ter que fazer pesquisa aplicada. Cheguei a escutar empresários “cobrando” retorno social do pesquisador. As pesquisas, pejorativamente chamadas de prateleiras, são as que as dão a base para que as pesquisas aplicadas ocorram e em via de regra são as que causam inovações de ruptura.

O desafio é criar as condições favoráveis para que os dois lados se sintam motivados a participar e assim obter os resultados alvissareiros que isto pode dar. Nesse aspecto, considero que a forma mais efetiva de cooperação deve envolver sempre que possível a imersão do pesquisador dentro da Empresa. Ele precisa conhecer o negócio da Empresa, suas potencialidades e seus problemas. Isso é fundamental porque a descoberta de um problema (em termos científicos) é uma das etapas cruciais do processo de pesquisa.

Tenho visto muito freqüentemente os empresários buscarem na academia soluções para problemas que os mesmos identificam nas suas Empresas. Em sua grande maioria tratam-se de problemas que podem ser resolvidos com a adoção de uma tecnologia adequada. Não deixam de ser importantes para a Empresa e podem otimizar suas operações, mas não se caracterizam como problemas de pesquisa e que, ao serem resolvidos, podem dar um diferencial competitivo significativo.

Já mencionei em texto anterior (acesse-o clicando aqui) como algumas empresas estão criando um conselho de ciência e tecnologia e colocando pesquisadores acadêmicos para fazer parte do mesmo. Se provermos soluções para os problemas apresentados sob essas duas óticas, a aproximação será muito mais fácil. Na verdade, sou bem otimista quanto a essa aproximação, pois é exigência do mercado globalizado. Vale a lembrança de que o maior indutor da aproximação universidade-empresa é a competição do mercado que vai exigir inovação em todos os níveis das organizações. Quem não investir nisso, não sobreviverá muito tempo.

terça-feira, 22 de março de 2011

Nosso Maior Fracasso

Este artigo é uma versão estendida do que saiu hoje na coluna opinião do jornal O Povo.

O caso da criança que participou da abordagem à empresária Marcela Montenegro e que acabou por tirar-lhe a vida é emblemático do que considero o maior fracasso da nossa sociedade. O menino tinha onze anos na época em que deitou-se frente ao carro em movimento da empresária com o intuito de fazer-lhe parar e ser alvo de um ataque de jovens que visavam roubar-lhe.  

Depois do crime, foi conduzido ao abrigo mantido pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social. Quase um ano depois o menino volta a cometer crime, justamente ao participar do mesmo tipo de abordagem. É inadmissível que o Estado não consiga cuidar de uma criança de onze anos de idade! Mais inadmissível ainda é usar o argumento de que a não há mais como recuperá-la. Barbaridade! Se não conseguirmos avançar nessa direção, como poderemos nos vangloriar de sermos maior economia disso e daquilo?

Mesmo se esse caso fosse uma infeliz exceção, o que lamentavelmente não acredito ser o caso, ele é trágico demais para ser desconsiderado. A incompetência demonstrada nas questões da deliquencia de crianças e adolescentes tem as consequencias graves evidenciadas no caso Marcela Montenegro, mas não param aí.

Outra conseqüência é que cresce nas pessoas o sentimento de que é preciso mais repressão, as leis são brandas e por isso a impunidade reina. Esse sentimento, embora me pareça justificável face a desesperança que impera, não pode prevalecer. As pessoas de bem precisam compreender e acreditar que a solução não está na busca da repressão, nem muito menos na modificação do arcabouço legal com esse fim.

Na verdade, se olharmos a realidade atual de boa parte das instituições responsáveis pela correção e punição de infratores, sejam crianças,  adolescentes ou mesmo adultos, não é difícil perceber que ainda impera uma prática de alta repressão, violência e mesmo barbárie. Se alguém tem dúvida, basta ir a um presídio ou xadrez de delegacia lotado. O sistema policial e penal é recorrentemente foco de denúncias de violência e desrespeito dos direitos das pessoas. O que é isso, senão a prevalência de uma lógica repressiva e que aumenta o ciclo vicioso da violência? E isso não tem resolvido e não vai resolver. Infelizmente, vemos fragilidades similares ou mesmo maiores nas instituições responsáveis por dar assistência e alternativas de vida as crianças e adolescentes que necessitam de apoio.

Quantos de nós que clama por mais rigor no tratamento de jovens, tem coragem de fazer o mesmo com seus próprios filhos? Não o fazemos porque sabemos muito bem que a violência, antes de gerar obediência, gera mesmo é a revolta e o ódio. Vejam que não estou aqui a olhar a questão sob a ótica da fraternidade ou da bondade humana que, aliás, a população brasileira  sendo tão religiosa, deveria até olhar. Defendo esse ponto de vista por convicção pragmática: é a única solução. Temos que prevenir, tratar, dar assistência, apoiar os que necessitam. Mas temos que fazer isso com qualidade. Hoje, só fazemos de conta. A sociedade como um todo tem que ser chamada a participar dessa grande e grandiosa tarefa. Se assim o fizermos, até a tarefa punitiva será mais fácil. Sobrará para aqueles que realmente não tem como serem reinseridos na sociedade. Mas não será nenhuma criança de onze anos de idade.

domingo, 20 de março de 2011

Nova Versão de WikiCrimes

WikiCrimes está com uma nova interface. Não se tratam de mudanças profundas, mas são as primeiras na direção de deixá-lo mais "visível" às máquinas de busca como o Google. A forma como WikiCrimes foi iniciamente projetado não cuidava para o fato de que após um tempo, com a base de dados em crescimento (hoje já são mais de 50.000 registros), seria necessário ajudar as maquinas de busca a indexar cada um desses crimes.


Próximas etapas nesse sentido de SEO (Search Engine Optimization)  estão sendo encaminhadas. As páginas de WikiCrimes terão tags em RDFa e assim ser ainda mais visível ao Google. Com tags RDFa o Google consegue proporcionar aos usuários os resultados de pesquisa mais úteis e informativos. Quanto mais informações um snippet de resultado de pesquisa conseguir fornecer, mais fácil será para os usuários decidirem se essa página é relevante para sua pesquisa. Em breve voltarei ao tema com mais detalhes. Por enquanto visitem e acompanhem WikiCrimes.



quarta-feira, 16 de março de 2011

Força Leão

Decido ir ao estádio hoje. Não gosto de multidões, mas o jogo hoje me motiva.

Vale a pena relembrar esses dois golaços de Vinicius contra o Flamengo em pleno Maracanã. É difícil acreditar que isso possa se repetir hoje com o tme que temos, mas em se tratando de fé ...

terça-feira, 15 de março de 2011

Modelos de Negócios na Internet: Twitter Sabe o Que Quer?


Estamos acostumados a ver os sucessos que nascem diariamente na Web. Aí veio o filme Rede Social para adicionar mais uma pitada na receita de popularização do sucesso explosivo. Mas será que é assim tão simples ganhar dinheiro na web?

As declarações de altos executivos do Twitter recentemente nos dão uma dica de que nem tudo é assim como parece. O Twitter montou sua estratégia de crescimento fundamentada no compartilhamento total das informações que lhe são enviadas (as mensagens de 140 caracteres dita Tweets).  Bem em seu nascedouro, o Twitter criou uma API para permitir o acesso aos tweets, o que incentivou à criação de vários softwares, ditos clientes, como Hootsuite e Tweetdeck.

Depois que começou a crescer em popularidade Twitter viu-se num dilema. Que modelo de negócios lhe dará sustentabilidade? Para onde continuar crescendo? Decidiu então começar a restringir o acesso às suas informações e tem aconselhado a não criação de novas empresas que se baseiem no modelo de software clientes. Estes que eram considerados parceiros já não interessam mais ao Twitter, que não se contenta mais somente em prover informação. Quer também explorá-la.

Essas medidas antipáticas têm sido muito mal recebidas pelos admiradores do "jeito Twitter de ser", mas principalmente por aqueles que investiram num negócio fundamentado na exploração dos dados que seriam abertos pelo Twitter.

Pois é, mesmo os grandes da web também sofrem suas crises, porque nós aprendizes não podemos?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Um WordPress para Jornais On Line


A Knight Foundation, organização americana sem fins lucrativos com interesse em fomentar o desenvolvimento de inovação na área de comunicação, anunciou um grande projeto. Ela financiará a Texas Tribune e a Bay Citizenduas jovens organizações também sem fins lucrativos, com US$ 975.000,00 para construir uma plataforma aberta de publicação de notícias.

A plataforma sera construída em Python e Django e se chamará Armstrong. Ela deverá conter características embutidas para SEO e mídia social. Além disso, ela incluirá ferramentas para facilitar a cobrança de conteúdo, gerenciamento de assinaturas e diferentes níveis de participação, compatibilidade com serviços de atendimento ao cliente e virá com funções que permitirão doações via cartão de credito integradas.

A ideia é prover empresas de comunicação com uma solução aberta, barata e padronizada. A constatação de que as soluções de TI são caras e difíceis de serem implantadas motivou a Knight Foundation. Clique aqui para conhecer mais sobre o projeto. É possível inclusive se comunicar com os desenvolvedores e demonstrar interesse em fazer parte do mesmo. Será que Armstrong se adequará as empresas de comunicação brasileiras? Merece a atenção.


quinta-feira, 10 de março de 2011

Mapa da Poluição Sonora

Essa semana que passou estive navegando pelo Wikimapps Barulho, uma criação conjunta da Wikinova e do Jornal O Povo, que visa criar um espaço de interação na web para os cidadãos interessados em denunciar abusos de poluição sonora.

Esse tipo de iniciativa tende a ser mais relevante agora que temos uma lei específica para coibir os abusos: a lei do paredão. Já são cerca de 350 denúncias feitas no mapa.

Em sua grande parte, percebo que as denúncias são sérias, bem fundamentadas e demonstram a real necessidade dos cidadãos de que providencias sejam tomadas. Em conversa com a equipe do Jornal O Povo recentemente enfatizei que temos que trazer o poder público para dentro do mapa. Fazer com que respostas sejam dadas aos denunciantes, por exemplo.

Acho também que, para o Jornal, o mapa do Barulho é rico de possibilidades. Pode gerar pautas muito interessantes. Vejam, por exemplo, essa denúncia que localizei no mapa (clique aqui para vê-la diretamente no Wikimapps Barulho). Um cidadão reclama que há um lava-jato clandestino que além da poluição sonora é responsável por poluição ambiental. E isso tudo há poucos quarteirões  da sede da regional III. Não merece uma investida jornalística? O que a regional III tem a dizer? E os proprietários do lava-jato?  Eles sabem da existência da denúncia? Conhecem o Mapa do Barulho? Seria inclusive um momento para divulgar a iniciativa e chamar o poder público à participação.


quinta-feira, 3 de março de 2011

Como é bom um parlamento (que funciona)


Tenho sido ácido na minha percepção da política, em especial, da cearense. Não posso deixar de mencionar quando algo positivo emerge desse contexto. Em Fortaleza, na semana passada a câmara de vereadores aprovou uma lei proposta pelo vereador Guilherme Sampaio que ficou conhecida como Lei do Paredão. A proposta é coibir os abusos de poluição sonora da cidade através do uso de caixas de som superpotentes.

Para mim, o processo todo como se deu a discussão da supramencionada lei é um exemplo de como, se usado corretamente, o sistema de tri-partição de poderes é elegante e adequado à democracia. O legislativo escuta a sociedade, propõe leis, discute mais um pouco dando espaço às diferentes opiniões e delibera. Simples e efetivo. No entanto, nos dias atuais isso tem sido muito difícil. Os parlamentos brasileiros em todas as esferas têm se esforçado para se desmoralizar. Propõem cada vez menos e com isso deixam espaço para o executivo fazê-lo. Na verdade, parlamentares estão, cada vez mais, somente a aceitar o que os governos propõem. Sintomático ainda é o fato de que, recentemente, até o judiciário tem legislado mais do que o próprio legislativo.

Mas, como já disse, deixem-me enfatizar o bom exemplo. A Lei do Paredão é daquelas coisas que nos faz parecer civilizados (talvez sejamos J) A sociedade que se organiza para defender o direito dos indivíduos na coletividade. Parabéns aos vereadores. Resta-nos agora esperar que o executivo faça sua parte em colocar a lei em prática.  

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Que Mudou na Computação ?


A computação faz cada vez mais parte de nossas vidas. Quando decidi por esta carreira em 1983 não tinha a menor ideia do quão impactante ela seria. Sabia que era algo “do futuro” (literalmente), mas não tinha nenhuma pista de que futuro seria este. Vez por outra reflito sobre o que mudou da época que comecei para cá. A base da computação mudou durante esses quase trinta anos?

Na faculdade estudei, grosso modo, as mesmas coisas que meus alunos estudam hoje. A necessidade de construir modelos computacionais para representar o mundo real estava presente naquela época como hoje em dia. Dominar o manuseio do símbolos e das abstrações (representados pelas linguagens de programação) nos diferentes níveis, sejam o das aplicações, comumente chamadas de sistemas de informação, sejam os de software básicos como sistemas operacionais e banco de dados era a atividade predominante. A compreensão da arquitetura do computador e as formas de organizar e manipular a informação aliava-se às essas outras atividades mencionadas. Não é a toa que as disciplinas de teoria da computação, banco de dados, estrutura de dados, linguagens de programação, análise de sistemas, redes de computadores ainda estejam presentes nos currículos dos cursos de computação mundo afora.

Mas isso não é intrigante? Como pode uma ciência ter evoluído tanto, ser hoje tão ubíqua e mudar tão pouco? Não falta algo na nossa formação? Quando penso em responder a estas perguntas sempre me vem uma coisa à cabeça: falta compreender melhor as pessoas. Creio ser essa a grande diferença da computação de hoje da de outrora.

Trinta anos atrás, os programas que desenvolvíamos geravam resultados que eram apropriados pelas pessoas de uma forma muito elementar. Produzíamos relatórios a serem lidos, via de regra por burocratas (sem sentido pejorativo), pois o objetivo era processar os dados. À época o computador era algo raro, grande, caro, excêntrico. Era uma máquina compreendida por poucos. No mundo dos mainframes (grandes computadores corporativos) a relação daqueles que o manipulavam (nós, os informáticos) com aqueles que iam usar seus resultados era distante e com um formato predefinido. Iríamos gerar as listagens de correntistas para uso dos bancários, a listagem dos produtos no estoque, as listagens dos funcionários com seus salários, etc.

Não tinha o menor sentido falarmos em interação humano-computador. A interação era humano-listagem de computador. Com o advento do PC e depois da Internet tudo isso se transformou radicalmente. Fazemos software que são usados pelas pessoas para fazer tudo e cada vez mais um pouco. Do micro-ondas à geladeira, passando pelos ipods, ipads e iTVs tudo requer interatividade. Como produzir isso sem compreender os meandros da comunicação entre as pessoas e delas com as máquinas? Nossos currículos se atualizaram para nos prepararmos a essa nova realidade?

É bem verdade que IHC (Interface Humano Computador) passou a fazer parte dos currículos de referencia dos cursos de ciência da computação, mas creio eu, ainda de forma incompleta. A comunicação, lingüística, sociologia e psicologia cognitiva para exemplificar algumas áreas parecem-me ser hoje cruciais para um profissional de computação. E não estou aqui querendo falar de alguém que vai fazer pesquisa. Penso mesmo em alguém que acaba de se formar e quer empreender. Sem base para compreender toda a dimensão do que é um software na era digital alguém pode inovar? Ainda há espaço comercial para o desenvolvimento tradicional de software corporativo, mas não é mais aí que está o futuro. O futuro está em fazer software para as pessoas no seu dia-a-dia. Para isso precisamos compreender o que as motivam, quais suas intenções, suas reações e suas relações. Os softwares vão de mais em mais permear tudo isso. 

terça-feira, 1 de março de 2011

Gastronomia à la Paulistana

Minhas recentes idas a São Paulo permitem-me confirmar a convicção de que esta cidade tem uma gastronomia extraordinária. Pode-se comer de tudo como toda grande metrópole mundial, mas não é somente a variedade que chama a atenção.

Em São Paulo, a culinária mundial encontra um espaço de transformação e adaptação sem igual. Recentemente cheguei a mencionar no Twitter o quanto acho gostosa a pizza paulistana. Hoje, sinto-me mais confiante para dizer que não é só na pizza que a culinária paulistana atingiu alto nível de qualidade. Dois exemplos de locais que visitei no último mês me permitem exemplificar o que quero dizer.

L ‘Entrecote de Paris é um restaurante com uma proposta excêntrica: servir única e exclusivamente este que é um dos pratos mais típicos do franceses. L `entrecôte é uma espécie de bife que vem acompanhado de batatas fritas e de um molho (normalmente béarnaise) e que está presente nos cardápios da grande maioria dos restaurantes franceses. Pois bem, L’Entrecôte de Paris em São Paulo serve uma carne ainda melhor que a dos franceses. A qualidade da carne e o molho super bem trabalhado dão um toque especial ao restaurante que não tem concorrente nem em Paris.

Mas estaríamos falando somente da nacionalização da culinária internacional? Não somente. O contexto nacional e regional tem também seu exemplo. No Brasil a Gosto pode-se comer uma cozinha regional das diversas partes do País de uma forma super elaborada e que não se vê mesmos nessas regiões. A manipulação dos ingredientes típicos nordestinos e amazônicos, por exemplo, é delicadamente feita tanto em termos de apresentação quanto de sabor. Ressalte-se os pratos preparados na forma de "bóias frias" (que de frias não têm nada). As generosas porções são servidas em cerâmica com tampa e envoltas em um pano de cores - exatamente como as usadas pelos bóias-frias, Brasil afora.

Só não encontrei ainda uma tapioca como a cearense. Alguém me indica alguma?