Siga-me no Twitter em @vascofurtado

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Números da Ciência Brasileira

O trabalho de um cientista não se faz de forma desprovida de avaliação ou de medição de produtividade. Muito pelo contrário. É um métier bem competitivo com métricas mundialmente aceitas e seguidas. Para os não familiarizados sobre como funciona esse mundo. Deixe-me descrever um simples aspecto que é muito importante nesse contexto. As descobertas feitas pelos pesquisadores são validadas e ao mesmo tempo divulgadas ao mundo através de publicações científicas. Os periódicos científicos e os anais das conferencias científicas contemplam artigos escritos por pesquisadores. O controle editorial do que está sendo publicado é feito por outros pesquisadores e esse mecanismo chamado de avaliação por pares (em inglês, peer review) é fundamental na comunidade acadêmica. Publicar artigos científicos é assim crucial para a vida de um pesquisador que passa naturalmente a ser avaliado pela quantidade de artigos que conseguiu publicar. Há inclusive uma máxima dita tradicionalmente em inglês publish or perish (publique ou pereça) que é muito bem conhecida pelos acadêmicos. Mas não são só os pesquisadores que passaram a perseguir e monitorar seus índices de publicação científica. Trata-se de uma questão política e mesmo estratégica para uma nação. Nessa era do conhecimento em que vivemos, índices de produção de conhecimento estão se tornando tão (e talvez se tornarão mais) importantes do que índices econômicos ou de produção industrial. São indicadores da criatividade e do potencial de desenvolvimento de uma nação. O que ocorreu na semana passada é emblemático dessa realidade que descrevo. O Ministro da Educação fez muita festa ao anunciar que o Brasil subiu duas posições no ranking de número de artigos científicos publicados em 2008 e ocupa a 13ª posição. Em 2007, o país estava no 15º lugar, atrás da Holanda e da Rússia, países que foram ultrapassados este ano. Entusiasmado o ministro emendou:
"Nós estamos vivendo um momento no país em que foi possível, de um ano para outro, aumentar em 50% a produção científica brasileira, em periódicos indexados por agência internacional"
Os dados mencionados pelo ministro constam da estatística realizada pela empresa Thomson Reuters, que contabiliza anualmente os números de trabalhos científicos publicados por 200 países. Mas o entusiasmo do ministro, além de emblemático, é igualmente exemplo de como os meandros desses mecanismos são tortuosos e complexos. Não é a toa que existe uma área da ciência que se destina a estudar os mecanismos de medição da ciência: a ciênciometria. Esse sucesso extraordinário já está sendo contestado, pois, dizem alguns, que ele decorre principalmente de uma mudança na forma de cálculo usada pelo Instituto Thomson. Como mais revistas brasileiras passaram a fazer parte dos arquivos do Instituto, a produção brasileira cresceu automaticamente. Ressalte-se que a avaliação quantitativa não é a única maneira de se mensurar a produtividade científica. Uma avaliação qualitativa se concentra não somente no quanto o pesquisador publicou, mas sobretudo no impacto do que foi feito. Esse impacto é normalmente medido pelo quanto o trabalho é usado ou citado por outros trabalhos. O fato é que as avaliações qualitativas da produção científica brasileira ainda são muito baixas o que acaba por ratificar as críticas dos mais céticos. De qualquer forma, sou extremamente otimista com toda essa discussão, não somente pelos números quaisquer que sejam, mas porque vivenciei (e vivencio) nesses últimos dez anos uma revolução na ciência brasileira. Uma revolução provocada certamente pelos incentivos governamentais de formação de doutores (continuados há mais de 20 anos), mas principalmente pela mudança na cultura da sociedade que lenta, mas gradativamente ergue a ciência ao patamar de importância que deve possuir em qualquer nação desenvolvida. Os números hão de mostrar isso, mais cedo ou mais tarde.

Nenhum comentário: