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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Le Foot Transparent

L’Équipe Magazine é uma revista que, aos sábados, acompanha o jornal esportivo francês L’Équipe (na minha opinião, uma das melhores publicações esportivas mundiais). Seu número de 14 de Março traz uma reportagem interessantíssima sobre a Liga Francesa de Futebol (Ligue Française de Football). Cabe a ela a gestão da primeira e segunda divisão francesa ( L1, para primeira divisão e L2 para segunda), o que equivale às nossas séries A e B do Brasileirão. Pela matéria dá para perceber diferenças evidentes, em termos de organização, entre a L1 e a nossa série A. A matéria do L ‘Équipe que se entitula “Combien ça coûte, la L1?” (quanto Custa a L1?) esmiúça todas as receitas e despesas da L1, num exemplo formidável tanto de transparência de gestão quanto de jornalismo qualificado que fornece ao leitor instrumentos precisos para compreender como o dinheiro é usado no esporte profissional e que mesmo ser ter subvenções públicas, pela sua dimensão popular, tem a obrigação de ser transparente com o cliente. Vamos a alguns números para compreender o nível de detalhe que se pode ter da contabilidade da L1. A L1 é um quinto campeonato europeu em termos econômicos com € 972 milhões de orçamento. Os ingleses tem o Foot mais rico do mundo com € 2,273 bilhões, seguidos por Alemanha €1,38, Espanha €1,32 e Itália €1,16. O preço médio do ingresso na Inglaterra é €61,00, enquanto que na França é €17,00. Os direitos de transmissão dos jogos dessa temporada na L1 rendem 680 Milhões de euros. Desse dinheiro metade é dividido igualmente e a outra metade é dividida segundo a notoriedade da equipe (20%) e pela performance esportiva (30%). O Lyon ganha €43,9 milhões enquanto que o Metz, o que ganha menos, recebe €13,74. O salário mínimo de um jogador da L1 é de €2.740,00 no primeiro ano, €3.425,00 no segundo ano e €4.110,00 no terceiro ano. O bicho mínimo por jogo também é regulamentado. Vitória vale pelo menos €274,00. O salário médio dos jogadores é de €47.700,00. Os treinadores fazem um capítulo à parte. Eles têm salário mínimo de €17.536,00 e não podem ser contratados por menos de dois anos. Se o clube quiser colocar o técnico para fora antes disso, terá que pagar os dois anos. Os salários de jogadores e treinadores constituem em média 64% do orçamento dos clubes (na Alemanha é só 45%). Pode-se saber detalhadamente quanto de cada ingresso vai para onde. Por exemplo, em um jogo onde o ingresso médio é €17,00, €8,00 vão para os salários dos jogadores, €1,25 para a comissão técnica, €1,25 para os empregados do clube, €0,70 de impostos, €0,50 para a organização do jogo, €0,40 para os agentes dos jogadores, €0,50 para material esportivo €3,90 para outras despesas como segurança, publicidade, etc.). O futebol francês é um negócio que gera cerca de € 505 milhões de impostos e taxas aos cofres públicos por ano. Desse dinheiro, cerca de 6% (€ 32,5 milhões) são obrigatoriamente destinados a outros esportes (amadores). Para não dizer que não há nenhum dinheiro público na L1, há algumas prefeituras que apóiam os times, mas isso não passa 3% do orçamento dos mesmos. Agora a parte que achei mais interessante é a que se refere a Segurança Pública nos estádios e arredores. A L1 paga cada centavo de policial usado para fazer a segurança dos jogos. Inclusive um valor de férias dos policiais proporcional o quanto eles trabalharam. Em um jogo de risco, paga-se em média à prefeitura a bagatela de € 60.000,00 pela Segurança. A matéria do L’Équipe é ainda enriquecida com algumas análises da produtividade dos times em termos de orçamento que possuem e gols que marcaram, por exemplo. Nesse momento em que a série B está em disputa entre Liga e CBF, seria muito bom que tivéssemos a possibilidade de saber quanto custa a série A e B do Brasileirão nesse nível de detalhe. Quem se atreve a pesquisar?


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