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quarta-feira, 18 de março de 2009

Sensações e Realidade: Os Limites do Ronda Quarteirão

Vi na no jornal O Povo na coluna Vertical essa nota: “Sensação de Insegurança voltou à cidade” e pedia “Governador, reforça o Ronda”. Senti-me impelido a refletir sobre isso. Em vários textos comentei sobre o que acho necessário para avançarmos mais solidamente na questão da Segurança (nesse link aqui você encontra referências para uma seqüência de links onde refleti sobre o assunto). As deficiências da Polícia Civil, por exemplo, foram mencionadas aqui. Em setembro de 2008 escrevi sobre o Ronda Quarteirão (veja o artigo aqui) e de como, na campanha para prefeito, o tema tinha sido abolido das discussões. Naquele momento, o Ronda vivia o auge de sua popularidade. Os candidatos então ficaram sem espaço para propor uma política municipal. Hoje, somente alguns meses depois, a reação provavelmente já seria diferente. Já se pode ver os primeiros sinais de cansaço do Ronda. O projeto foi lançado como uma inovação no policiamento. Um cuidadoso trabalho de marketing preparou símbolos desde a compra de um carro imponente passando pela “filosofia” comunitária, novas fardas e mesmo pelo título “ronda quarteirão” que trazia ao inconsciente popular algo que as pessoas mais sonhavam: a pequena Fortaleza de outrora. Até os números de celular dos policiais o cidadão tinha. Nada mais inteligente para gerar a sensação de segurança. Não adiantava dizer que a implementação de policiamento comunitário com policiais dentro de uma viatura de luxo era algo contraditório. Nem de que a logística do chamado de ocorrência para um celular é deficiente, pois em um momento de emergência ela pode falhar. As pessoas estavam mais seguras, pois estavam vendo mais Polícia e se sentindo próximas a ela. Era o que interessava. Nem as causas as interessavam. E ainda mais, os policiais eram educados! Nossas carências são tão grandes que consideramos fantástico o fato do policial dizer bom dia e boa noite. Ocorre que a problemática é bem mais complexa e o tempo vai desgastando cada símbolo um a um. A interação entre sensação de segurança e segurança real é algo que desafia cientistas sociais, criminólogos, economistas e todos aqueles interessados na temática. O mais intrigante é que não adianta baixar os índices de violência sem trabalhar a sensação de segurança. E ainda mais, pode-se inclusive conseguir fazer o cidadão sentir-se seguro sem que ele o esteja (pois a probabilidade de ser vitimado é grande). Se já é complexo em teoria, imagine no contexto brasileiro onde o esgarçado tecido social e o degradado sistema legal (policial, penal e judicial) são ingredientes explosivos. Digo tudo isso, não com o mero objetivo de criticar o projeto Ronda. Só acho que é bom sabermos exatamente o que ele é e o que pode trazer. Enfim, quais seus limites. Sem dúvida que sua implantação foi benéfica a cidade no sentido de aumentar a força do policiamento ostensivo que era muito carente em Fortaleza. E fato, no entanto, que não se trata de policiamento comunitário. O próprio Secretário de Segurança , sempre que se refere ao programa, usa o termo policiamento de aproximação (não sei muito bem o que isso significa). Mas o mais problemático é o fato de que os avanços obtidos com o Ronda não foram acompanhados nas outras áreas do próprio sistema como nas Polícia Civil e Técnica e no sistema Penal e muito menos em ações preventivas e que exigem articulações interdisciplinares. A consequencia são prisões e cadeias super-lotadas e o aumento da violência (principalmente nos roubos). Já havia falado sobre a importância e a dificuldade de se implantar ações desse tipo aqui. Enquanto não avançarmos efetivamente nessa direção, reforços no Ronda farão cada vez menos a diferença.

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