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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Promessas Digitais: Visões de Prefeitas

Coincidentemente (ou talvez não?) deparei-me semana passada com dois comentários, uma com teor de promessa, outra de realização política na área da computação que me surpreenderam. Primeiramente, a prefeita de Fortaleza divulgou que deixou de comprar um software por 23 milhões, encomendado na gestão anterior (herança maldita sempre rende!) , e que o mesmo está sendo desenvolvido, com a mesma qualidade, por menos de novecentos mil reais pelos alunos do projeto Pirambu Digital. Para os que não o conhece, esse projeto refere-se a uma iniciativa de inclusão social no bairro do Pirambu um dos mais populosos e pobres de Fortaleza. Iniciativa louvável (inclusive premiada pela FINEP) que visa dar uma nova alternativa de trabalho e renda para os jovens do bairro. A Cooperativa Pirambu Digital teve origem num projeto de formação de jovens em tecnologia da informação do CEFET-CE e desenvolve soluções em TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) oferecendo ao mercado local e nacional os serviços de desenvolvimento de software, criação de sites, manutenção de computadores, criação e implantação de projetos de redes, treinamentos em TIC e implantação de projetos de Inclusão Digital. Esses projetos dão sustentabilidade para que a cooperativa ofereça serviços de inclusão à comunidade como ensino de inglês e empreendedorismo, a preparação para o vestibular, o reforço escolar para crianças, as atividades de canto e dança, o suporte técnico em informática e o acesso à Internet gratuito. Nada contra a cooperativa, muito pelo contrário, mas o que me surpreendeu na afirmação da prefeita foi o fato que o tipo de software, a que ele se destinava, se o mesmo já está em funcionamento e implantado, onde está funcionando, bem como outros detalhamentos para a perfeita compreensão dos porquês dessa grande diferença de preço, nada disso, foi fornecido. A forma como a questão foi colocada me parece excessivamente simplista. Quem trabalha com computação ou mesmo somente precisa dela sabe que a especificação de um software e seu desenvolvimento podem sofrer variações grandes em termos de qualidade e preço em função das escolhas e exigências realizadas. Usar em um discurso político um exemplo de economia dessa magnitude sem detalhamentos é no mínimo incorreto. Outra declaração que me surpreendeu foi a promessa da candidata a prefeitura de São Paulo Marta Suplicy de que forneceria Internet Wireless de graça em toda a capital paulista, para todo paulistano. Pensei comigo mesmo, “será que escutei direito”. Não é que seja impossível, mas é uma proposta tão arrojada que nos faz desconfiar. Seriam cerca de 4.000 antenas espalhadas pela cidade tanto em prédios públicos como privados. Os detalhes técnicos não foram fornecidos, muito menos o custo para se ter algo do tipo. Esses dois assuntos me alertam para algo que já havia percebido em outras iniciativas, mas que parece estar começando a se popularizar: computação tornou-se assunto popular, mas com forte tentação a populismo. Os candidatos incorporaram de que devem dizer algo sobre o mundo digital. Como são normalmente pouco conhecedores do tema, são levados a dar declarações de impacto e que não se sustentam a uma análise mais criteriosa. Senti-me na obrigação de alertar e solicitar cautela.

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