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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Avaliação de Financiamentos de Pesquisa: Experiências Americanas e Européias

Como disse em um texto recente deste blog, tive a oportunidade de participar, em Bruxelas, de uma reunião onde pesquisadores europeus e brasileiros foram obrigados a apresentar a evolução de suas atividades dentro de um projeto euro-brasileiro de pesquisa científica financiado pela comunidade européia. Essa experiência me foi muito útil em especial por ter vivido no pós-doutorado nos EUA uma situação similar. Fiz parte de um grande projeto financiado pela DARPA (Agência Americana de Defesa) e estive presente em uma das reuniões de avaliação e prestação de contas. As similaridades entre os métodos usados pelas agencias de fomento americanas e européias são bem maiores que as diferenças. Tem-se sempre uma comissão de especialistas contratados pelas próprias agências que fazem a análise técnica do projeto durante o desenvolvimento do mesmo. A liberação de recursos para a continuação do projeto é condicionada a uma avaliação positiva desses especialistas. As reuniões de apresentação são extremamente importantes e duríssimas para os cientistas. Há uma sabatina sobre todos os aspectos do projeto, quer sejam financeiros quer sejam sobre o conteúdo científico. Agora, percebi uma diferença que me chamou a atenção. No modelo americano a proposta de projeto científico é feita por uma empresa encarregada de montar um consórcio de cientistas (no projeto que estava participando essa empresa era a Lockheed Martin), normalmente vindos de diferentes universidades. Essa empresa tem ainda a responsabilidade de gerenciar o projeto, definir o que deve ser entregue nas diferentes etapas, avaliar resultados e, sobretudo, de concretizar as pesquisas desenvolvidas. Ressalte-se ainda que essa empresa contrata um pesquisador para ser o gerente geral científico. É normalmente alguém altamente renomado e que possui uma ingerência forte nos rumos do projeto. Lembro-me que perguntei a um experiente cientista americano do porque deste modelo. Ele me disse que, antigamente, quando não se seguia este modelo, muitos projetos nem chegavam ao fim. Disse-me que cientistas não são obrigatoriamente bons gestores e com a inserção de uma empresa obtinha-se uma maior eficiência. Essas características demonstram nitidamente o perfil pragmático dos americanos. Há que se transformar as soluções científicas propostas por cada componente do consórcio em resultados o mais concreto possível. Os europeus tradicionalmente não seguem esse modelo. Há igualmente um consórcio, mas somente com uma instituição líder. A gerência geral do projeto é bem mais difícil de ser feita. Isso não impede, como já tinha dito anteriormente, que o processo de avaliação seja rigoroso e realizado durante o processo. E o que poderíamos dizer do modelo brasileiro? Bem, por não termos uma história longa de financiamentos a projetos científicos, creio que ainda estamos aprendendo. Em muitos projetos as avaliações e prestações de contas só são feitas ao final do mesmo. Depois que o dinheiro já foi gasto, o que se pode fazer? Ainda por cima as avaliações técnicas nem sempre existem, foca-se mais na prestação de contas meramente administrativa e financeira. Temos muito o que aprender, mas nosso atraso nessa área é compreensível.

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