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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Material Didático e Ideologia

O projeto de modernização do “Governo das Mudanças” não beneficiou a maioria da população. Muitos reclamavam da fome, da falta de moradia, desemprego, carência de assistência médica, aumento da violência, falta de escola pública de qualidade e alimentação básica. Apesar das mudanças, o governo centralizou o poder político e favoreceu a concentração de renda A quantidade de pessoas morando e trabalhando nas ruas cresceu. O número de crianças trabalhando aumentou e, mesmo com a ampliação das vagas nas escolas públicas, a qualidade do ensino não melhorou”. Você sabe de onde vem esse texto? Do livro didático de história Construindo o Ceará que é usado no Colégio Christus para alunos que em média têm nove anos de idade (dentro os quais minha filha mais nova faz parte). Esse texto levou-me a duas reflexões. O primeiro ponto a se refletir é, obviamente, sobre o conteúdo da informação veiculada no livro. Não quero entrar no mérito pontual de cada afirmação, mas não creio que seja difícil concordar que elas são no mínimo discutíveis. Apresentá-las de uma forma tão afirmativa para uma audiência com baixo poder de crítica, acho por demais cruel e injusto. Baseado em que estudo pode-se dizer que o projeto de mudanças não beneficiou a maioria da população? Sob que ponto de vista? A qualidade da educação piorou em relação a que época? Ora, se havia um contingente enorme de jovens que nem freqüentavam a escola e que passaram a fazê-lo, principalmente a partir de 1997, como se pode dizer que a qualidade diminuiu? Somente em relação ao ensino médio, o incremento em dez anos foi de 179%! Esses alunos tinham nível melhor quando estavam fora da escola? No próprio período do governo das mudanças verificou-se mudança nos índices de qualidade da educação. Tive acesso a alguns dados do Sistema de Educação Básico coordenado pela Secretaria de Educação que mostram índices bem contraditórios com a afirmação feita no livro. A taxa de abandono, por exemplo, reduziu 4% em 10 anos. O índice de reprovação também diminuiu cerca de 20%. Poderia discordar de todas as afirmações feitas no texto. Não se trata aqui de dizer que não tenha havido deficiências do governo das mudanças. É claro ainda que o nível de nossa escola pública está longe de ser aquela que queremos. Só acho que a forma como as informações foram colocadas é claramente tendenciosa. Caberia uma linguagem que tivesse o objetivo de gerar reflexões nos alunos. Colocar as coisas de forma mais contextualizada, apresentando mais informações e que as mesmas pudessem levá-los a tirar as próprias conclusões, se não agora, no futuro. Deve-se mostrar as crianças que as carências de nosso Estado são muito grandes e se acumularam com o tempo. Mesmo se algumas melhorias são feitas elas não são suficientes para erradicá-las. Mostrar que se cada governo der sua contribuição, teremos certamente um futuro melhor. É essa a mensagem que tenho tentado passar a minha filha. Infelizmente, tenho ainda outra mensagem a passar que não achei que seria necessário: sou obrigado a alertá-la que o material didático que usa não é tão confiável e que procurar diversas fontes e perspectivas sempre vai auxiliar na sua formação. A segunda reflexão que o texto me levou refere-se à falência de nossas instituições públicas como já mencionei em alguns textos passados neste blog. Seria responsabilidade do Conselho Estadual de Educação avaliar e validar o uso do material didático a ser usado pelas escolas. Será que isso é feito a contento?

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho pertinente esta reflexao, pois nao é dificil se encontrar materiais desta natureza. O que voce vai fazer agora? Me interessa saber se voce vai informar à coordenadora da escola ou ao escritor do livro, que escreveu este texto.

Vasco Furtado disse...

Vou informar o colegio. Estarei dando esse texto a minha filha para que ela entregue a coordenadora.