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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Idéias Criativas e Culturais: Impacto no Social e sustentabilidade

Retorno a questão das indústrias criativas (ver texto anterior sobre o assunto aqui) para discorrer sobre algumas iniciativas brasileiras nesse contexto. Primeiramente, vale ressaltar a Garimpo de Soluções que conheci no site da creativeclusters (veja texto aqui). Trata-se de uma ONG capitaneada pela administradora e doutoranda em arquitetura e urbanismo Ana Carla Fonseca. Ela é autora do livro Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável. Neste livro ela utiliza uma linguagem fácil e acessível para introduzir os conceitos relacionados a esses dois temas e descrever vários casos de sucesso em todo o mundo. Discorre, por exemplo, como a cultura tornou-se estratégia de política pública em vários países do mundo. Mas não é somente de iniciativas fomentadoras ou educadoras que quero falar. Gostaria de mencionar dois felizes exemplos de indústria criativa no Brasil e que vem daqui do Ceará. A primeira trata-se do Balé Edisca a quem já destinei um espaço particular nesse blog (clique aqui para acessar o texto). Na época de sua criação, o conceito de indústria criativa ainda não estava sedimentado nem disseminado. Talvez por essa razão a trupe não tenha sido batizada como tal. No entanto, congrega a criatividade advinda da música, da dança e da ginga brasileira, apimentada com a visão social que levou a busca por crianças carentes para serem os artistas da cena. Já se tornou uma referencia no Brasil e é um produto mundial com possibilidades de vendas para o mercado global. A outra iniciativa é o festival de Jazz e Blues de Guaramiranga. Esse festival mudou a face de Guaramiranga nos normalmente atribulados dias de carnaval. Músicos de renome internacional revezam-se no placo com pequenas bandas regionais que muitas vezes têm suas primeiras oportunidades de tocar em público. Além do aspecto musical, uma série de atividades ecológicas compartilham os espaços públicos com os músicos. Já está no calendário cultural nacional e mesmo mundial. Por fim, queria mencionar o afroreggae. Uma iniciativa cultural e que tem um impacto enorme na redução da marginalidade de jovens.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Segurança Pública: O Discurso Está Convergindo, As Ações Ainda Não

Ao assistir a entrevista do sociólogo e ex-secretário de Segurança Pública de Bogotá Hugo Acero no Roda Viva ontem a noite tive sentimentos antagônicos. Primeiro, veio–me a esperança de que estejamos avançando na luta contra os problemas de segurança no País. Digo isso porque me parece claro que de tanto se falar e debater, as idéias básicas do que deve ser feito na Segurança já começam a se cristalizar. O discurso de Acero foi sereno, inteligente e bem claro. Nada de soluções extraordinárias e mágicas e boa parte das propostas que ele apresentou e que foram aplicadas em Bogotá são fortemente convergentes com o que já temos apontado neste blog. Em síntese, deve-se compreender que não há solução sem o fortalecimento do poder público tanto nas medidas preventivas e de ações sociais como nas medidas repressivas com a profissionalização da polícia e a qualificação no judiciário. Já se sabe que o debate prevenção vs. repressão não tem o menor sentido (ver texto aqui), a continuidade das políticas é essencial (ver texto aqui), medidas de impacto como forças armadas nas ruas e endurecimento da polícia não resolvem definitivamente, policiamento inteligente com mapeamento criminal deve prevalecer, sistema punitivo com penitenciárias de segurança máxima e com penas alternativas para crimes de menor potencial ofensivo, qualificação policial, etc. Enfim, nada de extraordinário nem fortemente impactante como muitos esperam e clamam. Alguém poderia indagar: “ficar feliz com tão pouco? E os resultados?”. Pois bem, acho que só o fato do discurso estar convergindo pode ser considerada uma boa nova. E olhe que ainda há muita gente querendo “inovar” e achar a grande solução (veja texto sobre isso aqui). Mas como disse no começo do texto, há outro sentimento que não me deixa ficar muito entusiasmado. Se as idéias começam a convergir, não podemos dizer o mesmo das ações na direção de implantá-las. Já tinha mencionado em outros textos de nossa incapacidade de resolver os problemas por algumas deficiências gerenciais (quase culturais) crônicas (veja texto aqui). Há boas iniciativas em vários locais do País e me parece que essas iniciativas têm aumentado. Nada, no entanto, que possa me indicar que se tratam de mudanças perenes. Digo isso porque creio que nossa incompetência nos três itens seguintes ainda é muito impactante: i) não conseguimos realizar ações integradas inter-esferas de governo; i) não temos planos de governo que sejam respeitados por diferentes governantes e assim não conseguimos dar continuidade às boas políticas e, iii) não realizamos planos de governo que busquem ações transversais e multidisciplinares para resolver problemas complexos. Vejam que o título deste texto embute meu otimismo quando digo que as ações “ainda” não convergiram. Certamente convergirão. O quanto teremos que esperar, é o que não me arrisco a responder.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Material Didático e Ideologia

O projeto de modernização do “Governo das Mudanças” não beneficiou a maioria da população. Muitos reclamavam da fome, da falta de moradia, desemprego, carência de assistência médica, aumento da violência, falta de escola pública de qualidade e alimentação básica. Apesar das mudanças, o governo centralizou o poder político e favoreceu a concentração de renda A quantidade de pessoas morando e trabalhando nas ruas cresceu. O número de crianças trabalhando aumentou e, mesmo com a ampliação das vagas nas escolas públicas, a qualidade do ensino não melhorou”. Você sabe de onde vem esse texto? Do livro didático de história Construindo o Ceará que é usado no Colégio Christus para alunos que em média têm nove anos de idade (dentro os quais minha filha mais nova faz parte). Esse texto levou-me a duas reflexões. O primeiro ponto a se refletir é, obviamente, sobre o conteúdo da informação veiculada no livro. Não quero entrar no mérito pontual de cada afirmação, mas não creio que seja difícil concordar que elas são no mínimo discutíveis. Apresentá-las de uma forma tão afirmativa para uma audiência com baixo poder de crítica, acho por demais cruel e injusto. Baseado em que estudo pode-se dizer que o projeto de mudanças não beneficiou a maioria da população? Sob que ponto de vista? A qualidade da educação piorou em relação a que época? Ora, se havia um contingente enorme de jovens que nem freqüentavam a escola e que passaram a fazê-lo, principalmente a partir de 1997, como se pode dizer que a qualidade diminuiu? Somente em relação ao ensino médio, o incremento em dez anos foi de 179%! Esses alunos tinham nível melhor quando estavam fora da escola? No próprio período do governo das mudanças verificou-se mudança nos índices de qualidade da educação. Tive acesso a alguns dados do Sistema de Educação Básico coordenado pela Secretaria de Educação que mostram índices bem contraditórios com a afirmação feita no livro. A taxa de abandono, por exemplo, reduziu 4% em 10 anos. O índice de reprovação também diminuiu cerca de 20%. Poderia discordar de todas as afirmações feitas no texto. Não se trata aqui de dizer que não tenha havido deficiências do governo das mudanças. É claro ainda que o nível de nossa escola pública está longe de ser aquela que queremos. Só acho que a forma como as informações foram colocadas é claramente tendenciosa. Caberia uma linguagem que tivesse o objetivo de gerar reflexões nos alunos. Colocar as coisas de forma mais contextualizada, apresentando mais informações e que as mesmas pudessem levá-los a tirar as próprias conclusões, se não agora, no futuro. Deve-se mostrar as crianças que as carências de nosso Estado são muito grandes e se acumularam com o tempo. Mesmo se algumas melhorias são feitas elas não são suficientes para erradicá-las. Mostrar que se cada governo der sua contribuição, teremos certamente um futuro melhor. É essa a mensagem que tenho tentado passar a minha filha. Infelizmente, tenho ainda outra mensagem a passar que não achei que seria necessário: sou obrigado a alertá-la que o material didático que usa não é tão confiável e que procurar diversas fontes e perspectivas sempre vai auxiliar na sua formação. A segunda reflexão que o texto me levou refere-se à falência de nossas instituições públicas como já mencionei em alguns textos passados neste blog. Seria responsabilidade do Conselho Estadual de Educação avaliar e validar o uso do material didático a ser usado pelas escolas. Será que isso é feito a contento?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Estrago de Boas Idéias

Já tinha mencionado nossa incapacidade de implementar boas idéias no contexto da tecnologia da informação na segurança pública (clique aqui para acessar o texto) . Na verdade acredito que temos, enquanto país, uma baixa capacidade de realização que chega a ser traumática. Somos uma sociedade que privilegia fortemente a concepção de idéias, mas pouco a realização destas. A conseqüência disso é um constante estado do que chamo de “estrago de idéias”. Ou seja, idéias que são boas, mas por não serem corretamente implementadas acabam sendo estigmatizadas. No contexto da Segurança Pública do Ceará, presenciei em alguns momentos essa situação. A mais marcante delas se refere ao CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança). Fui o idealizador e coordenador do projeto CIOPS no Ceará. Um dos pioneiros no Brasil, até hoje ele é referencia nacional, pois contempla uma série de ferramentas que trazem qualidade e transparência à gestão. O CIOPS grava todas as ligações de pedido de socorro feitas pelo cidadão. Pode-se verificar imediatamente se o atendimento foi correto ou não. Um moderno sistema de computador registra o tempo de atendimento em um alto e variado nível de detalhe. Sabe-se claramente quanto tempo se levou para chegar na ocorrência. As viaturas de patrulha também são monitoradas por satélite e acompanhadas em um mapa digital dentro do microcomputador de cada policial que realiza o despacho e coordenação das viaturas na rua. Antes da implantação do CIOPS era muito comum o cidadão ligar para o 190 e este número estar ocupado. Com o CIOPS a capacidade de atendimento aumentou significativamente. Poderia descrever muito mais. Quase todos os Estados da federação vieram conhecer o modelo do CIOPS do Ceará e nele se inspiraram para a criação de seus centros. Era de se esperar que fossemos orgulhosos de nossa criação, não? Infelizmente, esse não é sempre o caso. Freqüentemente, escuto críticas a atendimentos realizados (ou deixados de serem realizados) pelo CIOPS. Não me parece que se esteja utilizando todo o potencial que o CIOPS tem e muito menos estejam sendo dados os recursos necessários para tal. Há claramente uma situação de “estrago da idéia”, pois os problemas apontados são sempre de operacionalização da polícia em si. Por exemplo, em um final de semana cerca de 30% das chamadas de atendimento não são atendidas por falta de viaturas. Impossível manter uma boa idéia com tamanha deficiência. A idéia-mor do CIOPS é a de um completo sistema gerencial que dá apoio às ações policiais. No entanto, ele não substitui o trabalho da polícia. Mágica não dá para fazer.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Second Life

Semana passada participei de algumas apresentações dos alunos do Mestrado em Informática Aplicada da UNIFOR sobre o Second Life (SL). Trata-se de um jogo onde há um mundo virtual com cidades, bancos, escolas, cinemas e tudo mais. Os espaços físicos são divididos em ilhas. Os avatars (bonecos que habitam o mundo virtual e são pilotados por pessoas) vivem nesse contexto e interagem com outros avatars. É como se as pessoas pudessem ter uma segunda vida (por isso o nome do site). Eu já tinha escrito sobre o SL e avatars em Março (veja o texto aqui), mas as apresentações dos alunos serviram para me alertar de novas coisas deste cenário inovador. Os brasileiros estão descobrindo o SL e muitas empresas estão se instalando lá. O SENAC – promove cursos de como criar avatars e objetos virtuais no SL (alguns cursos são de graça). A ilha vestibular Brasil congrega mais de vinte faculdades brasileiras num espaço de 130km2. A maioria delas é privada e se instalaram no SL por uma iniciativa da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior). Cursos à distância começam a ser ministrados. Os bancos também já se instalaram. Neste mundo virtual pode-se conseguir emprego real. Como os avatars precisam de pessoas que os manobrem, é comum se encontrar proposta de emprego para ser um atendente de uma loja virtual ou mesmo para ser ajudante de avatars de usuários iniciantes. Todo o comércio no SL é feito em Linden que é o nome do criador do jogo. Os usuários devem comprar Lindens para fazer comércio no SL (um dólar equivale a 220 Lindens). Atualmente o marketing é a maior motivação para participação das empresas no SL. Algumas fornecem bônus para que os avatars visitem as ilhas onde estão instaladas. A Globo, por exemplo, paga periodicamente alguns Lindens para avatars se sentarem em cadeiras perto de um grande logotipo global. Só com o interesse de agregar visitantes em torno de seu símbolo. Algumas faculdades dão cinqüenta por cento de desconto se inscrição feita pelo SL. Encontra-se de muita coisa curiosa. Pode-se voar e se tele-transportar para qualquer ilha do mundo virtual. Dá para sair de Copacabana diretamente para a Torre Eiffel para conversar com um avatar francês. Uma das mais interessantes situações que vi foi um avatar que era uma bailarina de rua. A bailarina ficava dançando numa praça, mas o usuário só escutava a música que estava tocando se pagasse alguns Lindens. Trata-se de uma situação interessante, pois é algo que não se pode ter na vida real. De mais em mais se presencia depoimentos de pessoas que escolhem o SL ou como hobby ou mesmo como empreendimento. Soube de um lixeiro na vida real que a noite se tornou um comerciante no mundo virtual do SL. Não tenho certeza que SL pode continuar crescendo se a proposta for unicamente de marketing. Acho que aplicações com caráter social deverão surgir como novas formas de educação. De qualquer forma, atualmente a tendência no Brasil é de crescimento. Vale a pena fazer uma visitinha.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Assisti ao filme Tropa de Elite na semana passada (no cinema!). Como obra de entretenimento acho-o muito bom. O roteiro é bem feito e a idéia de começar a contar a estória da metade e depois continuá-la no meio do filme, mesmo não sendo nova, teve resultado surpreendente. A câmera é ótima, dinâmica, captura bem as incursões às favelas o que traz realismo e mantém a atenção do espectador. O elenco é bom muito embora Wagner Moura esteja em um patamar bem superior aos outros. Não o conhecia e fiquei surpreso com a sua versatilidade. Consegue até fazer rir em um filme tão trágico. Acho que Tropa de Elite inscreve-se com louvor na lista das recentes boas produções brasileiras que vêm mostrando que temos condições de ter um cinema tão rico como nossa música. O segundo aspecto a se analisar é sobre o quanto o filme contribui ao problema da Segurança Pública no Brasil. E sobre esse ponto a complexidade da análise é muito maior. Evidente que somente pelo fato de trazer as mazelas do setor às claras, já o faz muito importante. O filme mostra duas alternativas ao protagonista Capitão Nascimento interpretado por Wagner Moura (que seriam as mesmas apresentadas a todo policial): ou se é corrupto e omisso ou se é íntegro, violento e age seguindo a filosofia de que os fins justificam os meios. Ao fazer isso o filme apresenta uma armadilha ao telespectador menos atencioso e desconhecedor da questão da segurança. Passa-se a acreditar que não há outra alternativa e que, sendo assim, a escolha de ser um policial em “guerra” é a mais digna e louvável. Não surpreende quando soube que recentemente os soldados do Bope (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro foram aplaudidos quando se exercitavam na Praia de Copacabana. A opção da legalidade, da qualidade, da inteligência e do respeito às leis não é colocada no filme. Na verdade, ela é esboçada quando Matias o policial negro é mostrado como um estudante de direito e que sabe fazer mapeamento criminal. Só que a cruel realidade acaba com todas as esperanças. Não se pode criticar o filme por isso. Busca retratar uma situação caótica (mesmo que um pouco caricaturada ao meu ver) e propor soluções seria por demais arriscado e até mesmo prepotente. Um outro aspecto relevante do filme é a forma como os valores morais dos personagens são apresentados e em particular dos jovens de classe média alta. Eles são engajados em movimentos sociais, inseridos nas favelas, mas coniventes com o domínio dos traficantes e ainda se apresentam como alimentadores de um sistema corroído por serem consumidores de droga. Novamente, há aqui uma escolha deliberada de mostrar os personagens como tendo seu lado bom e ruim. Ironicamente, esse alarme de como os valores morais da sociedade estão deteriorizados ocorreu até na distribuição do filme quando se derramou cópias piratas, inclusive dentro das própias corporações policiais. Em resumo, Tropa de Elite dá muito assunto para discutir e vale a pena assistir (no cinema é claro!). Só queria recomendar que não nos esqueçamos que da mesma forma que o problema da segurança é complexo, as soluções também as são. Há que se acreditar e buscar implementar, não somente uma terceira opção que não existe no filme, mas uma quarta, uma quinta e tantas outras que busquem o respeito às instituições, às leis e à dignidade humana.

domingo, 21 de outubro de 2007

Rádio Personalizada no Estilo “Jean-Luc Ponty”

A rádio personalizada (para escutar, bastar clicar no “play” do ícone vermelho na coluna ao lado) já está (e permanecerá nos próximos dias) tocando músicas no estilo do violinista e compositor francês Jean-Luc Ponty. Os que me conhecem sabem da minha paixão pelo violino e em particular por esse músico que é um dos maiores "virtuosos" nesse instrumento. Seu estilo jazz-rock, que começou a fazer sucesso na década de 70, depois ficou também conhecido como "fusion". Ponty inovou em toda sua carreira. Primeiro com violinos elétricos de 5 e depois de 6 cordas. Depois com a mistura com sons digitais e com instrumentos musicais eletrônicos que fazem seu violino parecer algumas vezes um sintetizador. Abaixo posto um vídeo com Jean-Luc em uma de suas apresentações recentes.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Pagamos Muito Imposto?

Aproveitando o debate atual sobre o fim ou não da CPMF, andei refletindo sobre se pagamos realmente muito imposto. Evidente que ninguém gosta de pagar imposto e sempre teremos a tendência de dizer que pagamos demais. A relação PIB e carga tributária é sempre usada para mostrar que estamos em desvantagem comparados com outros países, principalmente os mais desenvolvidos. Mas seria essa comparação honesta? Que país no mundo tem uma sociedade com tanta desigualdade social e que tem uma constituição que estendeu serviços de assistência a todos? Quem conseguiu crescer a população urbana em torno de 800% em cinqüenta anos como fizemos? Somente esses fatores já são indicativos de que temos sim que ter uma conta bem elevada a pagar e que talvez o problema não seja tão simples de ser abordado. Por isso ao invés de tentar dar uma resposta absoluta à questão, preferi olhar para o problema por diferentes perspectivas que me parecem mais esclarecedoras. A primeira perspectiva é de que o sistema tributário brasileiro é injusto. Quem ganha muito paga pouco (muitas vezes nem paga) e quem ganha pouco paga muito (até porque não tem a possibilidade de não pagar). Isso não se dá somente por falhas no sistema arrecadador e fiscal, mas por toda uma conjuntura de enfraquecimento das instituições republicanas. Por exemplo, há uma espécie de sonegação legalizada que é estarrecedora. Leis casuísticas e inépcia no judiciário (que faz com que o processo de cobranças de dívidas se estenda indefinidamente) são exemplos de como pode se deixar de pagar imposto legalmente. Escutei uma vez o ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, dizer que quando da implantação da CPMF, a Receita Federal descobriu que dos cem maiores pagadores de CPMF, sessenta nunca tinham pago imposto de renda! Tenho encontrado muitos empresários que dizem que o que mais o incomodam com o pagamento do imposto é o fato de que o fazem não competitivos. É aquele sentimento de que se ele pagar e o concorrente não, ele perde a competição. A questão sob essa perspectiva não é então se é muito ou pouco imposto, mas se ele é justamente distribuído e equitativamente cobrado. A segunda perspectiva é que o retorno do pagamento do imposto não é satisfatório. Ou seja, a qualidade do serviço público é ruim e assim o imposto fica “caro”. Essa reclamação se faz particularmente veemente quando oriunda da classe média, pois a mesma acaba tendo que abster-se de usar alguns serviços, notadamente de educação e de saúde, exatamente por essa má qualidade. De qualquer forma, é bom lembrar que imposto é forma de distribuição de renda. Não se paga imposto só porque se espera receber um serviço público de qualidade para si. Faz-se isso na esperança que a sociedade como todo, principalmente os mais carentes, possam melhorar suas condições de vida. A terceira perspectiva refere-se a enorme complexidade do sistema tributário (a começar pela quantidade de impostos). Trata-se de um sistema tecnocrático, o que torna o processo muito pouco transparente e que impossibilita totalmente a participação popular. Já escrevi sobre o quanto me surpreende escutar de cidadãos que a serem perguntados se desejam receber a nota fiscal dizem simplesmente que não (clique aqui para ler o texto). Não conseguem entender que há uma parte do que está pagando que deve ir ao governo e a nota fiscal é a forma de garantir com que isso aconteça. Ainda por cima não conseguem entender o que aquele pagamento impacta no seu dia-a-dia. Dado todo esse contexto descrito por essas perspectivas, é normal acreditar que se paga demais e tende-se a pensar de forma simplista que há dinheiro de sobra. O grande debate deve se concentrar na reforma fiscal que simplifique o processo atual, fazendo-o transparente e trazendo a população à participação. Poder-se-á mais facilmente realizar um processo mais justo de arrecadação e distribuição. Feito isso, será mais fácil de responder se pagamos muito imposto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Princípios e Leis

Numa recente entrevista televisiva, tive a satisfação de escutar o advogado Djalma Pinto, definir o conceito de princípio legal que me foi extremamente esclarecedor. Djalma Pinto exemplificou sua definição a partir do princípio da presunção da inocência. A idéia deste princípio é de que ninguém pode ser considerado culpado até que seja julgado e condenado. No entanto, ele deixou claro que se trata de um princípio e não uma regra jurídica. Ele pode, e em muitos casos deve, ser sobreposto por outro princípio. Por exemplo, suponha o caso em que um cidadão que tem diversos processos por mau uso de dinheiro público, mesmo sem ter sido julgado em definitivo. O princípio da presunção de inocência pode ser sobreposto pelo princípio da causa pública e do bem estar coletivo. Desta forma este cidadão não deve ser autorizado a postular cargos públicos eletivos. Ele acredita que o Brasil exagera e leva ao extremo o respeito pelo princípio da presunção da inocência. Como se leva de 12 a 18 anos para um processo um pouco mais complexo ser transitado e julgado integralmente, está posto o ingrediente necessário para que ninguém seja criminoso no Brasil. Políticos que reiteradas vezes são processados continuam se candidatando e se reelegendo. Esse esclarecimento dos aspectos legais me reforça o sentimento de que temos condições e espaço legal para negar candidaturas de pessoas envolvidas em irregularidades. Devemos usar das instâncias que pudermos para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral a agir fortemente nessa direção. Enquanto isso não ocorre, sigamos a estratégia mais simples e não menos eficaz: voto consciente.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Projetores em Telefones


Esta eu vi no blog dinamarquês Protos . Um celular e handhelds (palms e outros) com capacidade para projeção de imagens de até 20”. Trata-se de um lançamento da Sul Coreana Lljin e que deve estar chegando no mercado americano por esses dias. No ano passado a Empresa desenvolveu um nano projetor que permite a exposição de vídeos e fotos em paredes. A empresa Coreana já assinou contrato a SK Telecom para comercialização exclusiva. Trata-se mais um importante passo da indústria para a convergência de equipamentos em um só.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Indústria Criativa e a Economia da Cultura

Neste dia do professor, quero voltar a refletir sobre um aspecto que tenho reiterada vezes abordado nesse blog: a cultura de empreendedorismo, da inovação e da criatividade. Em particular vou me concentrar em um assunto que descobri após uma dica do Presidente da Fundação Cearense de Pesquisa do Estado do Ceará, Prof. Tarcísio Pequeno, sobre um site que congrega várias organizações que se dedicam a questão da criatividade como instrumento de produção de riqueza(clique aqui para acessar o site). Um dos conceitos básicos dessa iniciativa chama-se Indústria Criativa. Não se trata aqui de simplesmente dar um adjetivo às indústrias tradicionais. Estou me referindo a toda atividade que foi originada por uma idéia criativa, em função de um talento próprio, que pode gerar renda, bem-estar e emprego através da geração e exploração de propriedade intelectual. Essa é uma definição dada pelo departamento de cultura, mídia e esporte do governo do Reino Unido que, aliás, investe fortemente em iniciativas do tipo e por isso mesmo boa por parte das iniciativas da creative industries vêm de lá. O congresso de indústrias criativas reunirá expositores de todo o mundo e será em Londres em Novembro. Dentre os diversos setores que compõem iniciativas criativas pode-se elencar o audiovisual, a música digital, a publicidade e propaganda, artes de uma forma geral, designer e arquitetura, enfim, atividades que o Brasil tem um portfólio considerável e que pode ser explorado continuamente. A operacionalização de uma indústria criativa se dá normalmente com suporte da tecnologia e métodos modernos de gestão. Ressalte-se que o valor econômico do "produto" é baseado nas suas propriedades intelectuais ou culturais. Aqui entra um outro aspecto importante nessa nova economia, o valor cultural. Hoje em dia, as iniciativas específicas de uma cultura estão sendo cada vez mais difundidas globalmente. Por envolverem peculiaridades próprias de seu contexto de origem, são quase sempre inéditas e inovadoras à luz de boa parte do mercado global consumidor. Desta forma podem agregar valor e se tornam um excelente produto comercial. Vale aqui a máxima típica do mundo globalizado: produza local e comercialize global. Interesso-me particularmente por essas idéias por dois motivos. Primeiramente, deve-se perceber que todo esse contexto de indústrias criativas é convergente com a web2.0 e com o mundo digital. A web é a infra-estrutura comum e disponível a todas essas atividades criativas. Quer seja somente como veículo de disseminação, quer seja como próprio componente da solução criativa, a grande teia mundial potencializa as idéias criativas e apresenta-se como forma natural para abrigá-las. Acrescente-se a isso o fato de que os meios analógicos de armazenagem de mídia estão sendo radicalmente mudados para meios digitais. O segundo aspecto que me atrai deve-se ao fato de que o conceito de indústria criativa pode e deve ser aplicado às atividades governamentais, principalmente, à de transformação de cidades em espaços agradáveis e que promovam o bem-estar da população. Boa parte das iniciativas criativas a serem apresentadas no congresso mundial de indústrias criativas que se desenrolará em novembro em Londres, destinam-se a esse fim. Enquanto professores cabe-nos não somente apresentar esses conceitos aos alunos universitários mas, principalmente, fomentar a aplicação dos mesmos. Isso certamente será o vetor de transformação econômico e social com capacidade de transformação radical da realidade que vivemos hoje.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Somos Quatro !

A grande boa nova recebida ontem foi de que o Mestrado em Informática Aplicada (MIA) da UNIFOR, o qual sou membro, recebeu o conceito quatro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação. Saímos da nota três que tínhamos há mais de sete anos. Os que não são do meio acadêmico talvez não tenham idéia do que isso significa e o quão importante é para a UNIFOR e para o Estado. A nota máxima da escala da CAPES é sete. Nenhuma Universidade brasileira tem esse conceito na área de computação. As três melhores situadas, com conceito seis, são a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a PUC do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio Grande Sul. Conseguir a nota quatro em uma Universidade privada do Nordeste e com pouca história em pesquisa é sem dúvida um feito digno de comemoração. A avaliação da CAPES leva em consideração vários aspectos de um curso de mestrado como instalações físicas, grade curricular, número de dissertações de mestrado produzidas e principalmente a produção dos professores. Essa produção é medida em sua maioria pelas publicações científicas de todo o corpo docente. Aqui vale ressaltar que a homogeneidade do grupo da UNIFOR é um ponto extremamente positivo. A conseqüência imediata desta pontuação é que agora a UNIFOR tem maior respaldo para solicitar autorização à mesma CAPES para abrir um curso de doutorado em computação. Esse é nosso grande objetivo e coroaria os esforços de todos aqueles que começaram no início de 1999 com um sonho que muitas vezes pareceu inatingível. Nesse momento de alegria não há como não pensar no querido companheiro professor Belchior. Ele foi um dos pioneiros nessa empreitada e suas contribuições acadêmicas foram determinantes para essa promoção. Estamos todos de parabéns!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fazendo Revisões em Vídeo

A Amazon (www.amazon.com) lançou um novo serviço de revisões de seus produtos pelos próprios clientes. Elas agora podem ser feitas através de vídeos. Já tinha mencionado como a cultura do compartilhamento na web fará cada vez mais uso de revisões de clientes (clique aqui para ver o texto). Só lembrando. As revisões são comentários sobre a qualidade do produto ou serviço adquirido pelo cliente. A idéia da Amazon vem num momento em que fazer o vídeo deixou de ser algo extraordinário. Hoje em dia, qualquer telefone celular possui uma câmera com capacidade para filmes pequenos e com excelente qualidade de imagem. Sendo assim, não há mais razão para exigir que as pessoas dêem suas opiniões somente através de textos. Com revisões em vídeo será possível captar mais ricamente as críticas individuais e mesmo as coletivas. Principalmente as emoções, quer sejam negativas como positivas, poderão mais facilmente ser representadas. Creio que se trata de mais uma abertura para a criatividade e que tenderá a aproximar as revisões das publicidades. Já estou imaginando como em breve veremos revisões bem radicais com um cliente extravasando indignação contra um produto que ele considera ruim. É esperar para ver.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Mac x PC

Para os conhecedores do MacIntosh e das diferenças que ele tem em relação a um PC, vejam esse vídeo com várias publicidades em que esses divertidos personagens são mostrados. Uma das mais criativas campanhas publicitárias sobre a questão tecnológica. O PC é mostrado de uma forma super careta e pouco inteligente. O Mac é mostrado de uma forma casual (despojada), jovem e inteligente. É covardia, mas é bem engraçado. Até Giselle Bunchen foi chamada a participar.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os Fundamentos da Qualificação Policial

Os recentes tristes acontecimentos em Fortaleza com a desastrosa operação de abordagem da Polícia Militar que metralhou um veículo com cidadãos inocentes traz a tona novamente a questão da qualificação policial. Muito se fala da necessidade de investir em qualificação de policiais, mas infelizmente muito pouco tem sido feito para que isso seja feito de forma efetiva. Algumas iniciativas na direção de uma melhor formação teórica têm surgido principalmente por indução do governo federal que destina recurso para os Estados com esse fim. A parceria com universidades para que as mesmas passem a colaborar mais ativamente do processo de formação dos policiais é outra boa iniciativa. Mesmo assim tratam-se de iniciativas quase que inócuas em face das carências existentes atualmente. Primeiramente, vale lembrar que os conhecimentos necessários a formação de um policial são de natureza formal, mas também de natureza tácita. O conhecimento formal ou declarativo refere-se aos conceitos que envolvem as disciplinas estudadas como as questões legais e as diferentes estratégias de policiamento. O conhecimento tácito refere-se à praxe, às ações e procedimentos sejam de confronto ou simplesmente de conduta, ao manuseio de equipamentos como armas, às reações a situações intempestivas e de crise, etc. Esse caráter bivalente requer uma estratégia metodológica bem particular. De uma forma geral, quer estejamos nos referindo a conhecimento formal ou tácito, as modernas teorias educacionais sugerem que o processo de aprendizado seja feito de forma construtivista e contextualizada. O estudante deve ser levado a, sempre que possível, a construir seus conceitos em situações cotidianas, através da resolução de problemas. No entanto, quando estamos falando de conhecimento tácito, mais do que sugestões, isso passa a ser uma obrigação. O conhecimento tácito requer repetição contínua, simulações, experimentações que permitam a criação de reflexos condicionados. Gosto sempre de fazer uma analogia com os esportes. Ao se aprender a jogar basquete, por exemplo, os fundamentos do jogo como o passe, o arremesso, a bandeja, bem como as regras são apresentados ao atleta. No entanto esses conceitos só são internalizados com muita prática e repetição. Com muito treinamento os movimentos acabam por acontecer de forma totalmente natural e mesmo imperceptível a quem os faz. Ao ser questionado sobre como ele conseguiu fazer uma determinada jogada valiosa em um jogo, é comum escutar do atleta a resposta: não sei, saiu! A qualificação policial possui essa mesma natureza. Impossível querer que os conceitos aprendidos em classe sejam internalizados sem sua aplicação prática através de um contínuo processo de aprendizado. Infelizmente, as ações dos governos são cada vez mais imediatistas, pressionados que são pela sociedade que clama por soluções para a situação de violência nas grandes cidades. Os cursos de formação são reduzidos e o treinamento contínuo é por vezes totalmente esquecido. É comum encontrar policiais que só realizaram treinamento quando da admissão nas instituições policiais. Por outro lado as academias de Polícia também precisam de reformulação, com a renovação de seus professores e com uma maior aproximação com as Universidades. Aqui vale novamente o discurso que tenho repetido em textos anteriores (clique aqui e aqui par ver dois textos sobre o assunto), de que qualquer plano de segurança tem que prever ações estruturadoras focadas nos recursos humanos. Os resultados virão, mas de forma lenta e se somente se houver continuidade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Jazz de Four Play

A rádio musical desta semana é baseada no conjunto de Jazz Four Play. Uma das mais felizes união de músicos que vi recentemente. Bob James, Nathan East, Larry Carlton e Harvey Mason são músicos com sucesso em suas carreiras solo e que ao se juntarem conseguiram uma harmonia especial. O estilo do conjunto é inconfundível e pode ser escutado ao se clicar o ícone ao lado. Boa música.

Kobe Bryant 81

Para os amantes do basketball, aliás para os amantes do esporte de alto nível, este vídeo no YouTube registra o recorde de Kobe Bryant de 81 pontos em uma partida contra o Toronto Raptors, na temporada do ano passado. A segunda maior pontuação de todos os tempos, só perdendo para o lendário Wilt Chamberlain que marcou 100 pontos em um jogo em que o Philadelphia venceu o NY Nicks por 169 a 147. Perceba que em boa parte do jogo o Raptors está na frente. Ou seja, não se tratava daquele tipo de jogo em que o adversário não se esforçava mais. Era jogo duro, o que faz o feito ainda mais impressionante.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Inovação Tecnológica na FIEC

Essa semana a Federação das Indústrias do Estado do Ceará promoveu um evento centrado na temática da inovação. Uma louvável iniciativa que deveria deixar-nos esperançosos de que um futuro melhor se apresente na difícil tarefa de se conseguir mais produtividade na economia cearense. Na abertura do evento ocorreu uma apresentação do presidente da Caloi, o Sr. Edson Musa. Antes da apresentação do palestrante convidado para falar sobre inovação tecnológica, ouvi do presidente da FIEC seu diagnóstico de porque a indústria não investe em pesquisa: alta carga tributaria(sic). Lembrei-me de um dos primeiros textos que escrevi neste blog (clique aqui para acessá-lo ) que admitia mea culpa, de nós professores, por não termos sido hábeis suficientes para formar nossos empresários com uma visão de que pesquisa científica é investimento. Felizmente o palestrante convidado, durante sua apresentação, fez um diagnóstico bem mais elaborado para a pergunta: Porque a indústria não investe em pesquisa? Basicamente os seguintes fatores foram enumerados: i) o desenvolvimento de produtos foi historicamente destinado ao para mercado interno o que não levou a muita competição; ii) um mercado protegido ou pelo governo ou por situações de monopólios e oligopólios que também reduzem a competição; iii) Instabilidade econômica do País que favoreceu a visão de curto prazo; iv) Altos custos e baixa disponibilidade de recursos; v) Excesso de Burocracia; vi) Cultura de cópia de produtos americanos e, vii) baixa interação Universidade-Empresa. Eu adicionaria a esses fatores o puro desconhecimento dos empresários do que vem a ser a pesquisa, o que favorece a aceitação de clichês pejorativos da atividade e dos pesquisadores. Gostei especialmente de uma opinião do palestrante com a qual concordo fortemente: a competitividade microeconômica é um índice muito mais confiável para medir a riqueza de um país. Ou seja, a relação número de pequenos negócios em relação ao total de negócios dá um tom de quão dinâmica e emergente é a economia. Veja que essas observações vão ao encontro às minhas observações em textos anteriores de que a formação de doutores empreendedores, as incubadoras e o incentivo a criação de empresas com capital de risco, tipo modelo Vale do Silício, devem ser perseguidas para dinamizar a economia (veja texto sobre assunto aqui). Outra grande notícia trazida pelo palestrante foi a de que Empresas, como a Natura, estão criando um conselho de ciência e tecnologia e colocando professores universitários para participar do mesmo. Desta forma se consegue um processo de aproximação com a abertura das portas da Empresa o que facilita a identificação de oportunidades. Resta-nos esperar que as Empresas cearenses sigam a mesma idéia (e que não esperem os impostos baixarem para fazerem isso!).

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Tuangr: Realizando Compras em Conjunto na Web

Tenho escrito sobre como a Internet, em particular a web 2.0, tem aberto possibilidades para o espírito empreendedor (clique aqui para ver um texto sobre o assunto). Tomei conhecimento de uma iniciativa desenvolvida aqui mesmo em Fortaleza, pela IVIA, que considero ter todos os requisitos de uma iniciativa inovadora na web. Trata-se do projeto Tuangr que permite a criação de comunidades on line para a realização de compras em conjunto e assim conseguir preços mais convidativos. A idéia é simples como toda boa idéia: procurar formar um grupo de amigos que tem o interesse comum de realizar a compra de um mesmo produto. Desta forma consegue-se um poder de barganha maior junto aos lojistas e conseqüentemente melhores preços. A prática de fazer compras em grupos não é novidade, mas realizá-la na vida real não é fácil. É difícil encontrar pessoas com os mesmos interesses, no mesmo momento. Há que se sincronizar esses interesses, o que é particularmente difícil de fazer quando se tem de um círculo de amizades reduzido. O uso da web visa exatamente resolver esse problema. A criação de uma rede de interessados em um determinado produto é facilitada, pois ela pode ser formada sem as limitações que obrigatoriamente fazerem parte de um mesmo grupo social como a distância física. Em Tuangr pessoas interessadas em fazer uma compra anunciam esse interesse, abrem um grupo de compra e anunciam o quanto se pode obter de redução no preço caso o número de participantes aumente. Há nessa idéia todos os ingredientes de uma boa aplicação na web: criatividade, cultura do compartilhamento(clique aqui para ver o que escrevi sobre isso), apelo ao efeito contágio, ineditismo e indução da colaboração. Vale lembrar, no entanto, que o sucesso deste empreendimento depende de uma série de fatores como a logística que vai suportar o cliente durante e após as compras e a qualidade das negociações com os fornecedores para se conseguir abatimentos significativos das compras em grupo. A trajetória de uma boa idéia até um empreendimento de sucesso é longa e tortuosa. Exige paciência e aprendizado contínuo. De qualquer modo, a iniciativa é, desde já, digna de elogio. Deixa-nos otimista, pois serve de exemplo de nosso potencial para empreender nesse imenso mercado global digital.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Controle Social: Onde Bratton e Mockus Se Encontram

Tenho, reiteradas vezes, escrito sobre os conceitos de controle social e de efeito contágio. Retomo novamente o tema sob o contexto das políticas públicas municipais. O primeiro conceito refere-se àquele sentimento das pessoas de agir corretamente por respeitarem regras definidas por um grupo social. Este respeito se dá pelo fato de nos sentirmos desconfortáveis se formos reprovados em nossas ações pelos membros desse grupo. O efeito contágio é uma conseqüência do controle social. Se os integrantes do grupo agem de uma forma, eu acabo agindo da mesma forma e assim acabo contagiando outros e isso sucessivamente. O efeito contágio pode ocorrer de forma positiva como negativa. Em outras palavras, tanto atitudes negativas como positivas podem ser disseminadas por contágio. Recentemente, lendo sobre as políticas do prefeito Rudolph Giuliani em New York bem como do prefeito Antanas Mockus em Bogotá, percebi como os dois se fundamentam, de uma forma sutilmente diferente, no mesmo conceito. No final da década de 80 e no início da de 90, Giuliani foi o responsável pela implantação de uma série de medidas sociais e repressivas em New York que foram denominadas política de tolerância zero. Visava reduzir os índices de violência da cidade que tinham chegado a níveis preocupantes e que estavam afetando significativamente a economia local (é quando os americanos se preocupam com algo. Quando atinge o bolso!). Os resultados positivos vieram com o tempo, mesmo que ainda hoje alguns críticos façam interpretações variadas dessa política e de sua validade. Não quero aqui entrar em detalhe sobre todos os conceitos que a política de tolerância zero buscou implantar (clique aqui para ler um pouco mais sobre minha experiência na questão). Pretendo me focar em um aspecto que considero fundamental. O fundamento dessa política baseava-se na chamada Teoria da Janela Quebrada defendida pelo sociólogo George Keiling em seu livro Fixing Broken Window (clique aqui para ver o que a Wikipedia diz sobre isso) escrito com K. Coles. Basicamente, a idéia desta teoria era de que um ambiente degenerado induz a um comportamento negativo da sociedade. O exemplo clássico que deu origem ao nome da teoria era de que se alguém quebra uma vidraça de uma loja e ela não é logo consertada, a probabilidade de algum vândalo vir e quebrar outra acaba ficando maior. Acumulo de lixo em locais inapropriados é outro exemplo muito utilizado. Alguém coloca uma casca de banana, depois vem uma latinha, depois um saquinho de lixo e como o tempo o local vira uma lixeira a céu aberto. Podemos ver que se trata de um caso típico de efeito contágio onde as atitudes negativas começam a prevalecer e onde o controle social começa a se enfraquecer. O tolerância zero visa exatamente coibir a ocorrência destas pequenas atitudes negativas no seu nascedouro. Desta forma o efeito contágio não ocorre, o controle social não se enfraquece e não se atinge níveis elevados de desordem e delinqüência urbanas. Ao implantar sua política de cultura cidadã em Bogotá o Prefeito Antanas Mockus procurou explorar os mesmos conceitos (veja o que escrevi sobre isso clicando aqui). Ele implantou uma política agressiva que buscava educar (ou “envergonhar”?) o cidadão colombiano quando o mesmo era flagrado cometendo pequenos atos delinqüentes ou mesmo somente pouco éticos. Dizia sempre que o cidadão de Bogotá tinha mais medo de ser ridicularizado pelos outros do que de pagar multas. Criou uma série de medidas que buscava incitar o controle social e o conseqüentemente o efeito contágio (positivo). A distribuição de cartões vermelhos e verdes para os cidadãos, com a instrução de que os mesmos os usassem em reprovação ou aprovação aos outros em seus cotidianos foi uma dessas medidas (clique aqui para ler mais sobre cultura cidadã). Enfim, esses exemplos me convencem cada vez mais de que esses conceitos devem estar no centro de qualquer plano de governo em qualquer que seja sua esfera. Como fazer emergi-los de forma natural, como uma manifestação da sociedade, sem que isso signifique imposição de valores ou intolerância, é o grande desafio de qualquer governante.