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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Tecnologia da Informação: Em Busca do Sonhado Salto de Qualidade

Tenho participado de grupos de trabalho e acompanhado outros, em diferentes contextos, que visam discutir políticas e definir ações a serem tomadas no Estado do Ceará para transformar nosso perfil na área de Tecnologia da Informação (TI). Há um sentimento de que temos um potencial que precisa ser incentivado e que podemos dar um salto de qualidade nesta área. Como acabei de chegar do Vale do Silício e tive a oportunidade de conviver um ano neste ambiente que, em minha opinião, é o mais dinâmico e rico no mundo em se tratando de inovação e criatividade em TI, não pude me furtar a participar das iniciativas nesta direção. O processo de interação que tenho tido com os diferentes setores que representam o setor tem sido muito gratificante. Vejo uma preocupação e um interesse geral em contribuir. No entanto, pude perceber também como esse debate consegue ficar desfocado e excluir o ponto, que na minha concepção, é o mais relevante para que se consiga dar o tal salto. Em qualquer lugar do mundo em que se criou um ambiente de criatividade, inovação e empreendedorismo, pode-se claramente identificar Universidades que foram a base para tal. Para começar exemplificando com o Vale do Silício, as Universidades de Stanford e Berkeley são os dois grandes motores deste processo na Califórnia. Berkeley ao norte e Stanford ao sul de San Francisco congregam um pólo de indústrias de todos os portes ao seu redor. Há de se perguntar, se há alguma política fiscal de incentivo a essas empresas nessas áreas. Absolutamente. Aliás, a região de Palo Alto, nos arredores de Stanford, é um dos metros quadrados mais caros do mundo. O que existe lá, é o que é de mais precioso para quem almeja conseguir inovação: gente qualificada. Todos os anos essas universidades despejam no mercado doutores qualificados não somente na teoria e prática de suas áreas de atuação, mas, sobretudo, impregnados de uma visão empreendedora que lhes leva naturalmente a ousar, arriscar, competir, enfim, cheios de fome e loucura como diz a expressão sempre usada naquelas bandas por Steve Jobs (stay hungry, stay foolish, clique aqui para ver o discurso de Jobs na formatura em Stanford). Os mais céticos poderiam dizer que a realidade americana é outra e que ainda não estamos em condições de agir da mesma forma. Voltemos nosso olhar para o Brasil e veremos que aqui também não é tão diferente. O pólo tecnológico de Campinas é suportado pela UNICAMP com um dos melhores cursos de doutorado em Computação do Brasil, sem contar os outros cursos de doutorado em áreas afins. O Rio de Janeiro com a UFRJ e a PUC , Santa Catarina, com a UFSC, para ficar por aqui, também formam anualmente dezenas de doutores e mestres que alavancam o mercado de produção de software nessas regiões. Chegando ao Nordeste, em Pernambuco, a UFPE forma mais do que o dobro de mestres e doutores que todas as nossas Universidades juntas. Eles são o combustível que propulsiona o CESAR e o Porto Digital. Somente este ano a UFC conseguiu formar o nosso primeiro doutor em computação! Ressalto que quando estou falando de formação de mestres e doutores não estou me referindo a formação de pessoas com perfil exclusivamente acadêmico para pesquisa e docência (embora seja uma grande lacuna a ser preenchida). Minha visão de um doutor perpassa a capacitação na sua especialidade. Ela envolve uma capacidade crítica de análise e síntese, uma capacidade de identificar oportunidades da aplicação do estado da arte em benefício da sociedade, o que o credencia na atividade de saber identificar problemas não resolvidos e buscar formas inovadoras de resolvê-los. Obviamente, essas características não são exclusivas de quem consegue uma titulação academia, mas elas são potencializadas em quem passa por essas experiências, pois é o tipo de efeito colateral positivo que naturalmente se obtém durante essa formação. Enfim, é essa a realidade que temos que mudar urgente e prioritariamente. É esse o nosso real gargalo de formação de pessoal que temos. Como agir? Governos! Fortaleçam nossas instituições de ensino e pesquisa. Criem um ambiente de incentivo a inovação, a competitividade, a criação de pequenas empresas. Empresários! Estabeleçam mecanismos de cooperação com as Universidades que identifiquem possibilidades de utilização de seus recursos privados, dos recursos de lei de informática, dos recursos advindos de financiamentos de subvenção econômica e todas as outras oportunidades que hoje surgem abundantemente. Essas cooperações servem tanto para financiar geração de pessoal qualificado como para a produção de inovações. Afinal, não era essa a real intenção do legislador quando propôs as leis de incentivo hoje existentes? Professores! Saiamos de nossas salas de aulas para conhecer os problemas do “mundo real” e formemos doutores e mestres que sejam empreendedores. Esse é o tripé de base de uma política de TI consistente e que poderá nos levar ao tão sonhado salto de qualidade.

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