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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A Batalha de Idéias Sobre Biocombustiveis

A impressa mundial começou a abrir espaço para argumentos bem contrários à política dos bio-combustíveis. Quando li em Junho, a matéria do Le Monde Diplomatique (“Les cinq mythes de la transition vers les agrocarburants – Os cinco mitos da transicao para os agrocombustiveis " )percebi o quanto a diplomacia brasileira terá trabalho pela frente. Le Monde Diplomatique é um jornal mensal e importante veículo do pensamento da esquerda francesa e européia. É conhecido por pautar matérias de outros grandes jornais, visto que as apresenta de forma inédita e as explora em profundidade. Foi o começo de uma disputa que começou mesmo a vir a tona depois da visita de Bush ao Brasil. Quando os EUA apresentaram claramente prioridade pró etanol como combustível alternativo e a proposta brasileira de uma espécie de OPEP do álcool foi apresentada, o mundo começou a olhar para a questão. A possibilidade de parceria EUA-Brasil é o combustível perfeito para preocupar a Comunidade Européia e em particular acender a esquerda francesa que adora ser contra os EUA. Os cinco mitos discutidos no artigo de Eric Holtz, diretor do Instituto Food First (Institute for Food and Development Policy) são os seguintes: o bio-combustível é limpo e protege o meio-ambiente. Este mito é imediatamente contestado, pois se argumenta que se a produção de biocombustíveis acabar com 5% das florestas que ainda existem, se perderia todo o ganho ecológico que se teria com a economia de carbono. O segundo mito refere-se ao fato de que eles não levam ao desmatamento. Dados relativos a desmatamentos na Amazonia em função do avanço de áreas de plantação de soja bem como o mesmo efeito na Malásia, mostram que isso não é bem o caso. O terceiro mito refere-se ao fato de que os biocombustiveis trarão desenvolvimento rural. A contestação aqui é quantitativa. Mostra-se que 100 hectares dedicados a agricultura familiar criam trinta e cinco empregos ; a cana-de-açucar dez ; ao eucaliptus dois e à soja só a metade. O quarto mito, que vem sendo inclusive alvo de crítica de Chavez e Fidel Castro, refere-se ao fato de que agrocombustiveis não causarão fome. O exemplo usado para contrapor este argumento veio do México. Este país foi obrigado a importar milho dos EUA porque o preço interno tinha subido enormemente em função da pressão do Etanol. Até a típica tortilha mexicana foi ameaçada. Por fim, o quinto mito refere-se ao argumento de que os agrocombustiveis de segunda-geração estão a ponto de serem lançados e assim que eles minimizarão os outros problemas levantados. O artigo do Le Monde Diplomatique discorda desse argumento, pois as pesquisas nessa área ainda estão engatinhando e as soluções existentes são portadoras de vários problemas em termos ecológicos, como efeitos de contaminação ainda não examinados. Clique aqui para acessar o texto original em francês. Recentemente outro importante jornal, The New York Times, abriu espaço para noticiar o quanto a Floresta Amazônica está “sufocada” pela soja. Por fim, para acalorar ainda mais o debate, vale a pena lembrar que o motor elétrico está sendo considerado por alguns como uma alternativa bem mais viável(e ecológica) que os motores a combustão. Desta forma os biocombustiveis podem não ser tão relevantes em um futuro não muito longo. O desafio está posto. Para não perdermos mais uma grande oportunidade de desenvolvimento econômico, precisaremos de diplomacia, mas sobretudo de organização interna para mostrar que nossa política de biocombustivel consegue ultrapassar os obstáculos apresentados.

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