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quarta-feira, 25 de julho de 2007

Mercado de Desenvolvimento de Software Off-shore no Ceará

No mês de Abril escrevi que achava que a profissão de informática passava por uma espécie de crise de identidade (veja o texto clicando aqui). Não me é muito clara a direção que ela está tomando mesmo para um futuro em médio prazo. Tenho gradativamente aumentado esse sentimento (reconheço que não muito confortável para um professor na área), principalmente após a minha participação nas reuniões de um grupo de estudo coordenado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará que se propõe a elaborar um plano estratégico para o setor de Tecnologia da Informação no Estado. Este grupo tem por objetivo definir políticas de desenvolvimento para o setor e um dos temas recorrentes refere-se à definição de estratégias de formação de mão de obra. Essa questão toma proporções ainda mais relevantes quando se pensa a atender o mercado internacional de empresas de software. Os países em desenvolvimento como os EUA e a Inglaterra, por exemplo, tem contratado empresas na Índia para desenvolver softwares que serão usados em seus países. Isto tem sido cunhado de desenvolvimento off shore (ao pé da letra seria fora do porto em português). A infraestrutura de comunicação mundial estabelecida com a Internet e a tecnologia de redes existente permitem que tais atividades sejam desenvolvidas transparentemente em locais totalmente diferentes das sedes das empresas. Para as contratantes a atração principal desse modelo é a redução de custos, pois em países em desenvolvimento como a Índia se consegue serviço de boa qualidade com salários baixos. Os modelos indianos e recentemente os chineses deram certo porque nesses países havia, e ainda há, uma grande quantidade de mão de obra qualificada e muito barata disponível. Esta não é bem a realidade brasileira, principalmente porque não há tanta oferta de pessoal, embora alguns casos de sucesso nacionais nessa direção já possam ser identificados. A IBM de Hortolândia em São Paulo, por exemplo, possui cerca de cinco mil funcionários que fazem desenvolvimento de software para serem usados pelas próprias fábricas e escritórios da IBM ao redor do mundo. Exemplos como esse e estudos de consultorias internacionais indicam que o Brasil também tem condições de se tornar um desses paraísos de off shore. O Estado do Ceará, sabendo dessa possibilidade, tem buscado criar condições para que o desenvolvimento econômico nesse setor se torne realidade no Estado. O principal problema é que a maioria do pessoal necessário para desenvolvimento off shore é de programadores e a quantidade necessária para atender a demanda é normalmente bem maior do que as Universidades e Faculdades cearenses hoje lançam no mercado. Por esta razão urge um forte investimento em qualificação de pessoal que poderá assim resultar na criação de um novo nicho para o profissional de informática com a captação deste mercado. Uma das idéias é investir na formação de um profissional técnico mesmo sem a base acadêmica tradicional de cursos de ciência da computação, mas com qualificação em matemática e áreas afins que o permitam ter a abstração necessária para ser um bom programador de computador. Várias alternativas têm sido estudadas dentre os quais menciono a formação de programadores já no nível médio e a requalificação de desempregados de nível superior. O debate no tema está longe de se exaurir e não se pode dizer com certeza se os resultados de tais estratégias trarão o retorno desejado. O fato é que tal situação serve para reforçar o que já sabíamos, mas infelizmente não temos sido capaz de reverter: é preciso um forte investimento na formação de pessoas para se aproveitar as oportunidades da sociedade do conhecimento. Como lamentar-se não levará a lugar nenhum, só nos resta começar logo a agir, pois antes tarde do que nunca.

7 comentários:

Anônimo disse...

Caro Vasco,

Acho esta iniciativa do Governo Estadual louvável e ousada.

Tive oportunidade de estar com alunos do ensino médio das escolas públicas e ví muita iniciativa e busca de vencer na vida por parte desta garotada. Este é um grande começo.

Me questiono quando via alguns outros ainda com carências básicas e não eram poucos.

Pelo pouco tempo que vivo no Serviço Público ví que algumas iniciativas demandam muito esforço institucional e que acabam diminuindo a prioridade de outros esforços.

Não quero aqui trazer um discurso de que somos pobre e temos que dar o básico. Não penso assim mas,será que temos fôlego para dar o básico e avançar rapidamente para o futuro ?

Torço pelas iniciativas que vocês da ciência e tecnologia estão tendo, talvez eu esteja com uma visão pragmática demais das coisas

Vasco Furtado disse...

Caro Luis,
Creio que suas duvidas sao de muitos. Ha dois aspectos na questao. A formacao basica precisa ser feita com qualidade, continuidade e abrangencia independentemente de qualquer projeto de atingir um mercado em particular. Quanto a uma formacao profissional, o desafio eh prover uma qualificacao o mais eficaz possivel (no sentido de alto aproveitamento pelo mercado). Para isso eh preciso um estudo do mercado (oferta e demanda), que eh o que estamso buscando fazer agora.

Anônimo disse...

----- =l
------- ...=l
------ ......=l
BAKA...

Hildeberto Mendonça disse...

O Grupo de Usuários Java do Ceará (CEJUG) e o Instituto Atlântico estão trazendo para o Ceará o JEDI (Java Education and Development Initiative). Este projeto visa qualificar pessoas para trabalhar em projetos Java como programadores. Esse processo de qualificação é gratuito e dispõe de um volume substancial de material didático, inclusive video aulas.

Esta iniciativa irá dar uma importante contribuição para a capacitação de pessoal no Ceará. Já temos o apoio do Banco do Brasil, que colocou a disposição todas as suas salas de treinamento no estado. Acho que uma boa estratégia seria o governo do estado também apoiar esta estratégia, que tem cunho absolutamente social.

Leiam mais informações no site do CEJUG.

O CEJUG realizará uma palestra sobre o tema no dia 4 de Agosto, na sua série Café com Tapioca. Clique aqui para mais informações.

Vasco Furtado disse...

Otima dica Beto!

Anônimo disse...

Bom dia, Eu sinto a mesma coisa, não parece certo o rumo, mas esse sentimento parecido com o seu não é somente pelo que comenta sobre formação e investimento nesse ponto, mas também por ver a forma que as fabricas de software de pequeno, médio e grande porte, estão fazendo para ter a mão de obra hoje em dia, principalmente as de pequeno porte. Os trabalhadores da área são praticamente forçados a abrir uma empresa para ter emprego, quando não e por ganharem um valor abaixo do que seria considerado para abertura de uma empresa visando custo beneficio, acabam trabalhando informalmente, sinto que isso gera uma insegurança e até mesmo uma frustração em trabalhar na área, até mesmo continuar investindo na aquisição de conhecimento por meio de investimentos do próprio bolso na sua reciclagem como profissional. Hoje existem muito profissionais qualificados e a cada dia é pedido mais por parte das empresas, mas sinto que a área está se prostituindo e sendo mal aproveitada por parte das empresas desse tipo.

Anônimo disse...

eu acho muito interessante o modelo off-shore, no entanto eu não vi ainda exemplos disso no brasil. por exemplo 'se eu fosse' um desenvolvedor e quisesse fazer um trabalho sem vinculo com uma empresa, apenas desenvolver o que ela pede, no prazo que ela determina, receber meu $$ e depois cada um para o seu lado. uma oportunidade assim eu nunca vi...