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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Retrospectiva 2007 I

O hábito das mídias convencionais de realizar uma retrospectiva ao final de um ano acabou gradativamente fazendo crescer em mim o interesse em realizar uma retrospectiva do que escrevi no blog este ano. Na verdade fazer uma retrospectiva de textos escritos e que estão acessíveis a todo instante não me parecia algo muito óbvio. Veio-me então a idéia de escrever um meta-texto (!?). Em computação se usa freqüentemente o termo meta para definir uma forma de recursão de um conceito. Ou seja, um meta-texto é um texto sobre textos. Tentarei refazer a estória do blog descrevendo os momentos e motivações dos textos que escrevi (evidentemente, não de todos). Deu-se assim um texto pleno de links aos textos originais, mas que, espero, seja por si só compreendido. O texto possui três etapas que representam a cronologicamente os momentos vividos na Califórnia (até Abril), os momentos de adaptação no retorno (até Outubro) e os momentos atuais. Vamos começar. A aventura californiana foi-me uma experiência marcante onde pude vivenciar o espírito empreendedor dos que vivem no vale do silício. Muito desse empreendedorismo é voltado a Web e acabei virando um Web-holic (algo como viciado na web). No momento californiano comparações com a realidade brasileira me vinham sempre a cabeça (ensino, solidariedade, valores, corrupção, patriotismo, foram motivos de reflexões, muitas vezes, comparativas. Ao se estar longe e vivendo em um outro contexto pode-se mais facilmente perceber algumas coisas negativas que fazem parte do cotidiano brasileiro e que nos passam despercebidas quando se está aqui. A televisão, em especial as telenovelas, bem como a questão da censura são exemplos de assuntos que sempre estiveram em meus textos. Segurança Pública logo se tornou um dos temas majoritários de reflexão. No final de fevereiro e começo de março escrevi nove textos sobre esse tema (introdução , Diagnóstico, Plano real da Segurança, Quem Vai Fazer a Segurança, E Porque Já Não Fizeram , A Consultoria Bratton , Metodologia Bratton, Compreendemos Porque Precisamos de Um Sistema Prisional Melhor? e Impunidade exemplar ). Lembro-me bem de meu estado de espírito ao escrever esses textos. Estava movido por um imenso desejo de voltar ao Brasil e contribuir com a Segurança Pública. Meus estudos na Califórnia, além da Web, tinham se voltado para a questão e sentia que estava adquirindo um conhecimento teórico que se aliava com a minha prática vivida. O convite para participar do Fórum Brasileiro de Segurança foi outro fator que fortaleceu esse sentimento. Os nove textos são uma mescla de histórias de minhas experiências com algumas constatações advindas dessa vivência. Março foi o mês que mais produzi textos. Foram 26 ao todo (quase um por dia). Além da segurança, a tecnologia começou a ocupar espaço não só com a Internet mas com as novidades vivenciadas em Stanford. Tive tempo ainda para falar de uma das atividades que mais me dá nostalgia: a leitura de bons livros. Estava freqüentemente caçando novidades nas livrarias e pude comentar brevemente vários livros excelentes que li. Não posso deixar de mencionar que o mais interessante dos livros é The Wealth of Networks. Abril estava chegando e a hora de voltar ao Brasil também. A expectativa da volta e o sentimento de agradecimento aos amigos que deixava formaram os momentos mais emotivos do Blog. Aqui considero que se fechou um momento de minha vida em 2007 e conseqüentemente do Blog. Esse momento foi marcado pelo entusiasmo com o vale do silício, com a aprendizagem que foi contínua durante esse tempo e com a expectativa de poder fazer “algo diferente” ao voltar ao Brasil. Essa expectativa vai marcar a segunda etapa do blog e que descreverei em um próximo texto.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Final de Ano com Jazz

Estou renovando a rádio personalizada ao lado e voltando ao jazz com o estilo Grover Washington Jr. Infelizmente falecido em 1999, ele foi, com seus arranjos e com seu sax, um dos responsáveis pelo aparecimento de um estilo jazzístico chamado Smooth Jazz (no Brasil já vi chamarem de jazz contemporâneo). Trata-se de arranjos com vários instrumentos, improvisações e inserções de pop, soul e até rock. Algumas vezes criticados por músicos mais afeitos ao jazz tradicional, o smooth jazz teve artistas com grande reconhecimento do público como George Benson, David Sanborn, Bob James e, um de meus favoritos, Spyro Gira. Abaixo posto ainda um gravação que achei no YouTube de uma versão fantástica de Take Five imortalizado por Dave Brubeck. Já tinha postado este monstro do Jazz tocando com seu conjunto esse clássico. Grover Washington se superou. Fez um arranjo super moderno e inseriu um coro que chamou Take Another Five. Infelizmente não achei um vídeo, trata-se somente da gravação sonora da música, mas dá para fazer uma comparação com a versão original que postei aqui . Take vários Five !

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Onde Está a Transparência no CNPq?

Embora ainda sinta a existência de um estereótipo de que cientista é acomodado e só quer fazer pesquisa na Universidade, creio que isso vem mudando nos últimos anos. Na verdade, a profissão de cientista/pesquisador sempre foi uma das mais competitivas do mundo. O conceito de globalização, tão comum nos dias atuais em especial no mundo empresarial, é conhecido pelos cientistas há muito tempo. A ciência não tem e nunca teve fronteiras. A descoberta de uma nova idéia e o lançamento de uma nova teoria sempre tiveram que ser validadas (e aceitas) por outros pesquisadores no mundo. É o que se chama no contexto acadêmico de avaliação por pares. Quando se submete um artigo a uma revista científica para análise, os editores da revista convidam outros cientistas, reconhecidamente competentes no tema em questão, para avaliar o trabalho submetido. As críticas e sugestões feitas ao trabalho são retornadas ao autor do trabalho quer seja para dar-lhe crédito, quer seja para apontar-lhe as deficiências encontradas no trabalho. Neste último caso o pesquisador tem condição de saber onde falhou e assim, de forma construtiva, melhorar seu trabalho. Esse sistema é universal e causa orgulho a comunidade científica, pois embute transparência e democracia. Pesquisadores quando demandam recursos financeiros aos órgãos de pesquisa para realizar suas pesquisas seguem um sistema similar(ou deveriam!). No Brasil, o mais importante órgão financiador de pesquisa é o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Pesquisadores frequentemente submetem projetos ao CNPq solicitando dinheiro. Este ano tive a desagradável experiência de submeter um pedido de auxílio ao CNPq e tê-lo rejeitado. Foi o sentimento de indignação ao receber a mensagem do CNPq indicando o indeferimento de meu pedido que me moveu a escrever esse texto. Recebi uma negativa que tinha o seguinte texto “O projeto não foi recomendado pelo Comitê por suas características técnico-científicas ou produção científica ou tecnológica do coordenador, ou pela proposta orçamentária”. Esclarecedor, não ? Como posso saber o que não me credenciou a receber os recursos? Como devo proceder no ano que vem? Vale ressaltar que os critérios a serem usados para a escolha do projeto são extremamente vagos e deixam a entender que basicamente será a qualidade do projeto (em termos científicos e financeiros) que será determinante. O mínimo que se deseja num caso desses é que se especifique a razão de uma rejeição. Enfim, o titulo deste texto no blog diz o que sinto.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

As Árvores com Redes de Dormir: Uma Feliz Representação da Cultura Cearense


Não posso me furtar a comentar o quanto achei belas e inspiradas as árvores de Natal construídas com redes de lycra e que estão na Praça Portugal e na Praça do Ferreira. Os Fortalezenses certamente já as viram e se entusiasmaram com essa representação bem própria da cultura cearense para um símbolo natalino tão importante. Os que não tiveram oportunidade de vir a Fortaleza, ou venham logo ou pelo menos, se deliciem com a foto postada acima que retirei da versão web do Jornal O Povo (por Alcides Freire). Nela pode-se ver uma foto desse pinheiro bem cearense. Clique aqui para acessar a matéria. Abaixo faço uma tradução deste post para deixá-lo acessível aos amigos franceses e americanos. Feliz Natal.

A happy Representation of the Ceará Culture

I feel obliged to mention how beautiful and inspired I considered the Christmas trees designed and built in two important spots in Fortaleza (Ferreira Plaza and Portugal Plaza). The Citizens of Fortaleza certainly already knew them and, I believe, they are proud of this very typical representation of our culture. The pines are made of hammocks of cotton and lycra. Hammocks are a typical handmade product in the state. Even though originally linked to the less wealthy, a hammock is nowadays a required item in each and every house in Ceará, mainly because it is adequate to the warm weather. Above, I posted a picture of the Ferreira´s plaza pine (by Alcides Freire) extracted from O Povo newspaper. Feliz Natal!

Une heureuse représentation de la culture du Ceará

Je ne pouvais pas laisser passer l´opportunité de mentionner les très belles créations que sont exposées aux place Portugal et Du Ferreira, ici à Fortaleza. Le citoyen de Fortaleza les a certainement déjá vu et je croire qu´il est fier de cette très typique representation de notre culture. Il s´agit des pins de Noel que ont été faits des hamacs de cotton et de lycra. Les hamac sont des objets artisanaux très typique de l´état du Ceará. Même si à l’origine ils étaitent plutôt associés aux moins favorisés, aujourd´hui ils sont obligatoires dans chaque résidence cearense, surtout parce que ils sont adéquats à la chaleur typique de la région. Au-dessus, j´ai publié un photo du pin de la Plaza du Ferreira (par Alcides Freire) extrait du cotidian O Povo. Feliz Natal !

WikiCrimes: Uma Semana Depois…


Depois da matéria no O Globo (clique aqui para ver a matéria) que lançou WikiCrimes vale a pena uma reflexão sobre a agitada semana pós-lançamento. A repercussão do site e a reação das pessoas me têm sido uma experiência muito enriquecedora. A fantástica sensação de estar aprendendo ao se tentar fazer acontecer é ao mesmo tempo excitante e angustiante. A constante descoberta de novidades, furos, reações inesperadas das pessoas compõem o cotidiano. Tenho dito sempre que WikiCrimes é, antes de tudo, um projeto social e de cidadania. Requer motivar as pessoas a participarem por uma causa. Trata-se ainda de criar uma cultura de compartilhamento que está muito forte em países anglo-saxões, mas que não me parece sedimentada na América Latina. Os aspectos tecnológicos são claramente secundários. Afora alguns bugs que identificamos e melhorias que já estamos desenvolvendo, fica claro que um dos maiores desafios é de comunicação. Comunicação, a princípio, para fazer a divulgação do site. Em segundo lugar, comunicação de uma mensagem convincente que consiga fazer as pessoas se motivarem e participarem. Os meios de comunicação tradicionais e os blogs têm aberto espaço para WikiCrimes. A avaliação dos usuários têm sido muito positiva. Recebo muitos e-mails de felicitações, embora preferisse receber mais mensagens de engajamento. Agora os que são empresários já olham para o projeto com um ar preocupado. Pensam que as informações criminais podem afastar os fregueses e clientes. Uma preocupação que não deixa de ser compreensível, mas contra a qual contraponho o seguinte questionamento: vale a pena tentar esconder a verdade dos clientes? Ao fazer isso não estariam arriscando a segurança destes e assim desmerecendo-o? Espero no futuro ter empresas parceiras do projeto e que elas passem a mensagem que suportam o projeto, pois estão preocupadas com o bem-estar do cliente (em última instância do cidadão) e por isso zelam pela transparência das informações. Em uma semana WikiCrimes já tem 100(cem) registros de crimes (tirei uma foto do site e o postei acima). A maioria dos registros deu-se em Fortaleza que tem sido a cidade mais participativa pela óbvia razão de ter sido o local onde WikiCrimes teve maior divulgação. Essa constatação aponta para a necessidade de se conseguir manter um alto nível de divulgação (o que está longe de ser evidente). Lembro-me de um livro interessante que li ano passado que se chama Tipping Point. Fala de um ponto de inflexão que um fenômeno atinge e que a partir dele seu crescimento é exponencial. Atingir o Tipping Point é o grande desafio de qualquer desenvolvedor de site na web. A estratégia é manter um crescimento constante e esperar que com o tempo o tipping point aconteça. O quanto se deve esperar para que isso ocorra, ninguém sabe. Há que se ter paciência e persistência. É minha primeira experiência nessa direção e, fazer isso, sem uma estrutura comercial nem organizacional torna o desafio ainda maior. Todo esse contexto faz parte do processo de aprendizagem. Acho que a idéia de WikiCrimes é tão boa que ela arrisca dar certo mesmo sem maiores estruturas. De qualquer forma, sei que precisaremos de parceria para manter a chama acessa. Será meu próximo passo e minha nova disciplina a cursar.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Félicitations à Mon Cher Ami

Mon cher ami, my dearest friend, meu compadre (de casamento e de minha filha!), meu cabo eleitoral para ciço, meu companheiro no ataque, meu colega de universidade, meu colega de trabalho,meu leitor mais participativo. Ufa! Todas essas denominações servem para ilustrar o quão representativa e multi-facetada é minha amizade com Luis Eduardo Menezes, o aniversariante de hoje. Aquele que ouso, com aquiescência de D. Zélia e Paulo Roberto, chamar de irmão. Abaixo, um estilo e cantor que lhe agradam numa música que me agrada. Há sempre como encontrarmos igualdades em nossas diferenças. Parabéns.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Expandindo as Funções do Wiimote

Já comentei como a academia tem extensivamente usado o conceito de marketing viral. YouTube, por exemplo, está cheio de vídeos descrevendo inovações advindas de projetos desenvolvidos nas Universidades. Aqui mesmo nesse blog alguns desses projetos foram referenciados (ver aqui e aqui para exemplos). Vale a pena lembrar que ExpertCop também está lá (clique aqui para ver o vídeo). Mais recentemente, achei um projeto muito interessante de um pesquisador chamado Johnny Lee da Universidade de Carnegie Mellow, uma das cinco melhores dos EUA, que teve a brilhante idéia de usar o wiimote (controle remoto do jogo Wii da Nitendo) para funcionar como leitor de interações. Já descrevi o aparelho da Nitendo e de como é divertido usá-lo (clique aqui para vê-lo em ação). Era de se esperar que ele rapidamente passasse a se tornar um equipamento de interação mais amplo do que somente uma console para jogos. Nesses vídeos abaixo já se pode ver como o wiimote poderá ser usado em um futuro bem próximo. Como ele possui uma câmera que lê infra-vemelho, a idéia de Lee foi a de gerar dispositivos que emitam esse tipo de luz. Dessa forma wiimote pode se tornar um rastreador do dispositivo. No primeiro vídeo ele usa os próprios dedos como dispositivos a serem rastreados. No segundo ele evolui a idéia para usar uma caneta. Tratam-se de soluções de baixíssimo custo para quadros digitais e mesmo para a realização de interação em múltiplos pontos como se pode ver nos vídeos. O software usado para controlar as interações está disponível na página do criador (Http://Johnnylee.net) onde se pode encontrar outros vídeos muito interessantes da equipe que Johnny Lee faz parte.



quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Uma Desastrosa Política Ambiental

Enquanto o New York times anuncia a “vontade” do Governo Bush de continuar discutindo (e de fato continuar sem fazer nada), vale a pena observar alguns dados que Paul Krugman (articulista deste jornal) descreveu a partir da comissão de energia Americana (Energy Information Administration) sobre a emissão de dióxido de carbonos:
A emissão de CO2 em milhões de toneladas.

Periodo------------1980 1997 2005

Europe_______4672 4446 4675

EUA_________4748 5544 5957

China________1455 3969 5323

Lembrem-se que 1997 é o ano do protocolo de Kyoto. Krugman alerta que as gerações futuras não perdoarão os EUA pela política irresponsável que desenvolvem hoje. Vale a pena também observar que o crescimento econômico chinês é um enorme desastre. Vejam esses números no gráfico abaixo. Fica mais fácil de perceber como o crescimento está ocorrendo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Cultura Cidadã: É Preciso Conquistar as Escolas

Não é muito difícil achar exemplos no cotidiano de nossa falta de cultura cidadã. Não vou ficar enumerando-os a todo o momento, mas queria me deter a um exemplo que considero ilustrativo e excessivamente relevante da falta da cultura cidadã em um local que tem por obrigação ensiná-la: as escolas. Trata-se da postura da escola face à forma deseducada como os pais de estudantes se comportam no trânsito quando vão deixar seus filhos na escola. Vê-se um festival de maus exemplos. Como esperar que as crianças cresçam educadas? O pior é que nesse caso estamos falando exatamente de escolas que têm por objetivo ensinar. Vem-me sempre a mente os modelos dos países mais desenvolvidos. Quando cheguei na Califórnia, no primeiro dia que fui deixar minha filha de nove anos na escola, vi um senhor organizando o trânsito e logo pensei que fosse um servidor da escola como os que costumo deparar-me aqui (que por sua humildade, são incapazes de impor respeito e não servem de forma alguma para controlar o trânsito). Ele coordenava um grupo de crianças (alunos da escola) de 6 a 9 anos que estavam com coletes de trânsito e indicavam onde as pessoas deviam parar. Alguns minutos depois fui recebido por este Sr. e só então pude perceber que ele era o diretor da escola. Isso mesmo. O trânsito nos arredores da entrada da escola é controlado pelo diretor da escola com a ajuda das crianças. Isso não é óbvio? Claro que sim! Não há melhor momento e local para aprender a como se comportar no trânsito do que na chegada e saída do estacionamento da escola. E ainda por cima, há alguém com mais moral para fazer isso do que as próprias crianças? Ou será que os pais das crianças seriam tão mal educados que desrespeitariam até mesmo os(as) colegas de seu(sua) filho(a)? Creio que não. Até porque os pais saberiam que seus filhos também passariam por aquela atividade. Na França, minha experiência foi similar. A escola tinha um local de estacionamento distante da entrada e todos tinham que deixar os carros lá e se encaminhar com a criança até a entrada. Nada de querer parar na porta da escola como é hábito aqui. A diretora da escola também participava do controle do trânsito (embora menos ativamente que o diretor americano. Creio que só por uma questão de estilo). O fato é que nesses países está muito claro de que a missão da escola é também educar cidadania. Os muros da escola não podem ser limites para isso. Esperar que a criança entre na sala de aula para que ela possa começar a ser educada é totalmente imbecil. O que é mais lamentável é que nossas escolas privadas, que se vangloriam de ter qualidade de ensino, são as que mais se isentam de assumir um papel mais ativo nesta educação integral que, talvez, seja a que mais faça falta ao nosso país.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

WikiCrimes no O Globo



Nesse domingo (16/11/2007) WikiCrimes foi lançado “oficialmente”. Jorge Antônio Barros em seu popular blog repórter de crime (clique aqui para acessá-lo ) e em matéria no O Globo (clique aqui para ver a matéria no O Globo on line) descreveu os principais objetivos e características do projeto. Conheci Jorge Antônio no Rio, mês passado, quando lhe fui apresentado pela Profa. Silvia Ramos da Universidade Cândido Mendes. Ela é membro do Fórum Brasileiro de Segurança e uma das pessoas mais entusiasta e comprometida com a causa WikiCrimes. Jorge possui larga experiência em jornalismo investigativo e em jornalismo policial. Ele já tinha lançado uma campanha muito parecida com a idéia de WikiCrimes em seu blog. Solicitou aos cariocas que o enviassem notícias sobre crimes que presenciaram ou sofreram. A partir das informações enviadas, ele desenhava um mapa de crimes das regiões mais críticas. Wikicrimes vem complementar a idéia de Jorge trazendo maior poder de representação para grandes volumes de dados e para uma área de abrangência mundial. Além disso, contamos implementar várias outras novidades que aumentarão a interatividade do site e que, certamente ajudarão para a criação de uma comunidade on line. Tenho que ressaltar que o apoio de pessoas como Jorge e Sílvia são fundamentais para que um projeto do tipo de WikiCrimes dê certo. São guerreiros do dia-a-dia pela causa de uma segurança pública eficiente e respeitosa dos direitos e da vida humanos. Têm a coragem de assumir posições firmes em causas que vão nessa direção. O fato de eles terem adotado WikiCrimes me conforta e honra. Logo perceberam que WikiCrimes, acima de tudo, é um instrumento de cidadania. Um instrumento que fornece transparência no trato da informação e que dá ao cidadão o poder da escolha. Publico acima a matéria do O Globo. Nunca é pouco lembrar: "Compartilhem informações sobre crimes e saibam onde não é seguro”.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

WikiCrimes Está no Ar!

Dando continuidade ao texto em que falei da motivação de WikiCrimes, volto ao tema desta vez para anunciar o lançamento da sua versão beta (versão que está sujeita a pequenos problemas e modificações). Basta acessar o site WikiCrimes para começar “a compartilhar informações sobre crimes e saber onde não é seguro”. WikiCrimes é uma aplicação típica da Web 2.0. Ela permite aos seus usuários acessar e realizar registros de ocorrências criminais no computador diretamente em um mapa digitalizado. Por esta razão, esta atividade se chama mapear o crime. A filosofia que norteia WikiCrimes é a mesma da enciclopédia Wikipedia. Parte-se do princípio que a participação individual pode gerar uma sabedoria das massas. Ou seja, se todos participarem o mapeamento criminal passa a ser feito colaborativamente e todos terão o benefício de ter acesso às informações de crimes no mapa. Trata-se de uma experiência arrojada, pois muito mais do que um projeto de informática ele se apresenta como um projeto social. Considero-o social não somente pelo fato de ser relativo à Segurança Pública que, evidentemente, se trata de uma questão social. O que quero enfatizar é que o projeto requer a participação da sociedade e o seu sucesso depende essencialmente de se conseguir sensibilizar as pessoas a participarem. Por isso, a partir de hoje, começo uma cruzada no sentido de provocá-los a registrar crimes e convoco-os a juntar-se a mim na tarefa de difundir e disseminar a idéia.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Interação Mental com o Computador: Uma Boa Perspectiva para Second Life

Em uma recente participação numa mesa redonda sobre interação humano computador na Universidade Estadual do Ceará fui questionado se via futuro no Second Life(SL). Minha resposta foi um pouco do que já escrevi sobre o tema neste blog (clique aqui para ver). Em resumo, embora existam algumas questões nebulosas que dificultam apostar plenamente no sucesso do SL. Acredito que somente com o surgimento de aplicações que justifiquem se “viver” no mundo virtual pode potencializar seu uso. Descobri uma forma bem interessante disso acontecer ao conhecer um projeto de pequisa japonês (via http://www.pinktentacle.com/) da Universidade de Keio no Laboratório de Engenharia Biomédica. Nesse projeto se usa uma forma muito recente e bem futurista de interface com o computador chamada em ingles de brain-computer interface (BCI) onde se utilize o cérebro para comandar o computador. Isso mesmo. Controle mental do computador! Nada de metafísico, BCI usa eletrodos colocados na cabeça da pessoa para monitorar três áreas do córtex motor (região do cérebro responsável por controlar os movimentos dos braços e das pernas). O monitoramento permite captar sinais que, ao serem analisados por computadores, podem identificar padrões que identificam a intenção do usuário. Os pesquisadores estão usando BCI para guiar avatars no SL. Para controlar os avatars na tela, o usuário simplesmente pensa em mover várias partes do corpo. Por exemplo, o avatar anda para frente quando o usuário pensa em mover seus próprios pés, ou ele dobra a direita ou esquerda quando se pensa em mover os braços direito ou esquerdo. Ainda não é possível comandar os avatars a realizarem gestos mais complexos, mas o pesquisadores acreditam que no futuro esse tipo de sistema poderá ajudar pessoas que têm deficiências de locomoção se comunicar e mesmo trabalhar no SL. É exatamente esse tipo de aplicação que creio pode se tornar a Killer Application (aplicação chave) para o SL. Pessoas que não podem se locomover teriam a possibilidade de fazê-lo no mundo virtual através do poder da mente. E dos computadores, é claro!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Jacques Brel

Como em fevereiro estarei indo a Bruxelas a trabalho, lembrei-me de algumas peculiaridades da Bélgica. Esse pequeno país tem uma cultura muito marcante. A diversidade e qualidade de suas cervejas e a criatividade como são produzidos seus deliciosos biscoitos são exemplos dessa riqueza. No entanto, a Bélgica tem também um estigma de ter algumas de suas mais importantes criações não reconhecidas. Os franceses são os que mais se apropriam das “marcas” belgas. O caso das batatas fritas é emblemático. Elas foram inventadas pelos belgas, mas o mundo afora as conhece por Batatas Francesas (French Fries, em inglês). Na música há outra grande injustiça com a cultura belga. Jacques Brel foi um dos maiores expoentes da música francofônica no mundo.Ele ainda hoje é muito freqüentemente considerado um representante da música francesa e muitos pensam que ele é francês. Embora tenha vivido boa parte de sua vida em Paris, Brel era Belga e se orgulhava muito disso, como demonstra sua obra que contém várias músicas que descrevem Le Plat Pays (expressão para descrever as planícies que formam a paisagem típica da região do BENELUX – Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo). Abaixo coloquei um vídeo em que Brel canta seu maior sucesso Ne me quite pas. O vídeo ilustra a forma emotiva e intensa com que interpretava suas canções, o que, na minha opinião, era sua maior característica. Intensidade extrema foi o que marcou sua breve vida (morreu com 49 anos de um câncer no pulmão). Além disso, programei a rádio personalizada ao lado para tocar músicas no estilo Jacques Brel. Uma singela homenagem aos amigos belgas (bem como os amigos que passaram a conviver por aquelas bandas recentemente).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

WikiCrimes: Compartilhe Informações Sobre Crimes. Saiba Onde Não É Seguro

Os que me conhecem mais de perto sabem o quanto tenho investido minhas energias no projeto que concebi recentemente chamado WikiCrimes. Ele está se tornando realidade com a ajuda dos alunos, parceiros e todos os membros da célula de engenharia do conhecimento da UNIFOR. Antes de dizer como funcionará o projeto, deixem-me manter um pouco o suspense e apresentar a motivação para o mesmo. A veracidade e precisão das informações sobre onde ocorrem crimes bem como as informações sobre a tipificação desses crimes sempre esteve na pauta das discussões sobre Segurança Pública no Brasil. Tradicionalmente essas informações são monopolizadas pelas instituições policiais e caracteriza-se assim por um mecanismo altamente centralizado. Esse monopólio acaba por criar uma tensão na relação dessas instituições com a sociedade, pois, vez por outra, se contrapõe ao preceito da publicidade e da transparência das informações que requer um regime democrático. Alie a esse contexto, as recentes crises que têm caracterizado o dia-a-dia das instituições policiais bem como suas limitações para prestar um serviço público de qualidade que tendem a reduzir a confiança do cidadão nessas instituições. Esses fatores compreendem algumas das razões para o agravamento das sub-notificações: baixo índice de notificações de crimes ocorridos. Tornou-se comum escutar de alguém que foi assaltado dizer que não deu queixa a polícia por considerar que isso não surtiria algum efeito. Pesquisas feitas com vitimados em alguns estados brasileiros mostram que a sub-notificação pode, em áreas densamente povoadas, chegar a 60% para certos tipos de delitos. O resultado disso pode ser desastroso em termos da formulação de políticas públicas e em especial no planejamento da ação policial, pois o mapeamento criminal oficial pode estar refletindo uma tendência bem diferente da que ocorre na vida real. Seria possível modificar essa lógica da centralização e do monopólio oficial da informação criminal que tem prevalecido nos últimos tempos? Por achar que sim, idealizei WikiCrimes. A idéia é fornecer um espaço comum de interação entre as pessoas para que as mesmas façam as notificações e possam acompanhar onde os crimes estão ocorrendo. Parte-se do princípio que quem detém a informação sobre um crime é o cidadão. Se ele desejar torná-la pública pode fazê-lo. Desta forma a participação individual, de forma colaborativa, pode gerar uma sabedoria das massas. Ou seja, se houver participação ativa o mapeamento criminal passa a ser feito colaborativamente e todos terão o benefício de ter acesso às informações sobre onde ocorrem crimes. Vejo WikiCrimes como um projeto do cidadão para o cidadão. Seu slogan é “Compartilhe informações sobre crimes. Saiba onde não é seguro!”. Como Wikicrimes vai ajudar para que isso seja feito será explicado em um próximo texto.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

TGIF – Porque hoje é Sexta

Alguém sabe que sigla é essa? E OMG? Ajudaria se eu dissesse que é uma sigla para palavras inglesas? Provavelmente não. Os americanos são mestres em construir siglas. Usam-nas a todo o momento. Acredito que esse hábito tenha se incrementado nos últimos anos devido a cultura da comunicação via chat(bate-papos). Nessa forma de comunicação busca-se agilidade com a redução de palavras. É uma das coisas que mais dificulta a compreensão da língua inglesa para quem vai por lá. Não basta entender o vocábulo, há que saber o significado das siglas para permitir entender o contexto. Não dá, por exemplo, para conversar de política sem saber que GOP (Grand Old Party) é o partido republicano. Por isso, ao estudar inglês, peça a seu professor para explorar algumas siglas e vá se habituando a construí-las também. Quando você menos esperar, elas serão usuais. Ah, TGIF significa Thanks God It is Friday – Graças a Deus é Sexta-feira. Já OMG significa Oh My God!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A Saga da Geléia da TAM

Não é difícil encontrar situações que exponham nossas deficiências de prestação de serviço, tanto público quanto privado. Encontrei uma situação emblemática ao viajar pela TAM de Fortaleza à Brasília. O serviço de bordo constava de torradas que vinham acompanhadas de uma geléia de marca MU–MU (que criatividade eih?!). Pois bem. Essa geléia estava em um recipiente que era extremamente difícil de ser aberto. Todos os que estavam ao meu redor estavam “apanhando” da geléia (eu inclusive, lógico). Normalmente esses recipientes contêm uma pequena aba que deve ser quebrada para permitir puxar o invólucro. Não era o caso desta. Causou-me logo espanto o fato de que o produto continha um MADE IN BRAZIL bem visível até porque o tipo da geléia também estava traduzido (grape jelly – geléia de uva). Certamente, com essa qualidade, o produto vai sofrer para concorrer no mercado internacional. Os franceses, por exemplo, que adoram geléias, as produzem em suas mais diversas formas e sempre que as degustei nunca tive tamanha dificuldade de manuseio. Por que será que as deficiências como a da geléia acontecem? Alguém será que já reclamou disso para a Empresa ou mesmo para a TAM? Quando perguntei para a aeromoça de onde vinha a geléia ela de pronto me disse “é difícil de abrir, né!”. Claro que não era novidade. Talvez até já tenha dito a um superior que a geléia era osso duro de roer. Apressou-se a me fornecer um cupom de reclamação da TAM, chamado fale com o presidente, em que o cliente tem a possibilidade de demonstrar sua insatisfação ou fazer qualquer comentário de outra natureza. Não sei se muitos o usam. Creio que a qualidade do serviço está diretamente ligada a exigência do cliente. Mas a estória da geléia da TAM não morre aqui. Decidi tentar decifrar o que estava escrito nas minúsculas letras impressas na capa do invólucro da geléia. Dificílima tarefa. Pude constatar, no entanto, a existência de um 0800 para que o cliente consultasse o valor nutricional do produto. Que beleza! Parece-me que o objetivo de fornecer a informação nutricional é subsidiar o cliente para que ele decida se quer ou não ingerir o alimento. Como vou consultar o 0800 dentro do avião? Estou supondo que ela deveria ser comida no avião, não? Aqui entra também a deficiência do serviço público. Não deveriam agir os órgãos de fiscalização? Pareceu-me mais um jogo de faz de conta. Continuando a saga da geléia, decidi ligar para o número 0800(0800517542). Estava curioso para saber se ele funcionava. Funciona. Fui bem recebido, mas a informação que tive foi de que eles não têm solução para a abertura da geléia. Estão estudando. A Empresa é gaúcha e não faz exportação. Não me souberam responder o porque dos nomes em inglês. Por fim, disseram que os nutrientes não são colocados porque não há espaço. Enfim, a norma é inviável. Bem típico do Brasil. A odisséia da geléia tem o seguinte final: enviei a MU-MU e a TAM o texto desse blog. Espero tê-los ajudado a melhorar seu produto e serviços respectivamente. Fui dormir pensando sobre como o blog me leva a ser um cidadão mais ativo. Afinal, pegando emprestado o slogan da TAM que se orgulha de ser brasileira. Eu também quero me orgulhar (da TAM e da MU-MU).

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Programa São Paulo Um Estado de Leitores: Um Bom Exemplo de Transversalidade

Tenho falado recorrentemente sobre a necessidade de termos políticas públicas que contenham ações transversais. Em recente comentário neste blog, Luis Eduardo (ver aqui o comentário), questionou se estamos no caminho certo na nossa forma de fazer política pública. Repliquei que a transversalidade deve estar no centro das gestões. Só lembrando, a transversalidade significa deixar de ver os problemas sociais e econômicos somente por um ponto de vista e de forma isolada. Ao contrário, busca-se compreender as interações dos diversos setores da sociedade e de como as ações públicas podem perpassá-los aproveitando-se do potencial multiplicador que isso pode trazer. Coincidentemente, durante o seminário sobre economia criativa tive a oportunidade de conhecer o projeto de disseminação de livros e da leitura no Estado de São Paulo que exemplifica maravilhosamente como fazer política com ações transversais. José Luiz Goldfarb, o coordenador do projeto, ao ministrar sua palestrar, deu exemplos de como isso pode ser atingido. O objetivo principal do projeto é criar o hábito da leitura nos cidadãos paulistas. Para se atingir o objetivo buscou-se identificar que outros projetos governamentais poderiam se beneficiar das ações que o projeto de leitura podia trazer, bem como identificar potenciais alvos para a disseminação do projeto. Por exemplo, os presídios foram inundados de livros. Os presidiários como tem muito tempo disponível, adoram ler e o fazem em uma velocidade muito grande. Precisam de livros. Projetos de re-socialização passaram a fazer uso mais intensamente do livro. O objetivo de fazer o cidadão ler ganhou assim um grande aliado. A mesma idéia foi seguida em hospitais. Livros foram distribuídos para os pacientes internados. Cerca de vinte projetos do governo foram contemplados com a idéia de disseminação e distribuição de livros. Parcerias público-privado estão também presentes no programa com o patrocínio de empresas que podem recorrer a lei Rouanet, mas ainda de outras formas mais criativas. A Volkswagen participa ativamente do programa de doação de livros. Caixas de coleta de livros e panfletos de divulgação do projeto foram colocados em cada concessionária, fábrica e oficina da Empresa. Uma competição para saber qual a concessionária que mais realizou doações foi criada. Com o programa Adote uma Biblioteca, as pessoas podem doar livros a bibliotecas pelo site da livraria cultura. Além disso, museus, teatros, FIESP e diversas outras instituições buscam arrecadar livros que chegam a perto de trezentos mil por ano. A qualificação de pessoal também foi tratada. Os livreiros e ajudantes de livreiros foram capacitados e sensibilizados para ganharem o gosto de ler. Só assim podem ser multiplicadores da idéia. E os resultados disso tudo? Como medir? Um programa de redações mostrou que municípios onde o projeto foi implantado com maior ênfase se sobressaíram. Várias outras iniciativas foram providenciadas (ver o site do projeto aqui ). Enfim, trata-se de um caso de sucesso de política com ações transversais. Será que é mesmo tão difícil agir assim? O exemplo de São Paulo mostra-nos que transversalidade pode ser obtida bem mais simplesmente do que pensamos. Desde que se tenha pessoas qualificadas que capturem o conceito e que, com criatividade, ajam com vontade de fazer a coisa certa.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Stress no Trabalho

Dando continuidade à reflexão feita recentemente sobre o trabalho (ver o texto aqui) e dado que este fim-de-semana estarei trabalhando tanto no sábado quanto no domingo (o que aliás aconteceu também no sábado passado), decidi postar esses vídeos que encontrei no YouTube. São cômicos, mas nos alertam aonde podemos chegar. Vou tomar cerveja!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Alugam-se Carros de Polícias

Rio de Janeiro e Minas Gerais deram um tom do que pode se alastrar pelo país. Terceirizaram suas frotas de veículos policiais (nenhuma Hilux!). Todas as viaturas operacionais são alugadas e o contrato prevê que os carros não podem passar mais de duas horas parados. Se quebrar, ou se repara ou se envia outro. Em conversa com o coronel comandante do policiamento de Belo Horizonte, ele me disse que, agora sim, podia planejar as ações e executá-las, pois sabe que vai ter os veículos disponíveis. Não tive acesso ao valor do contrato, mas me disseram que ele é bem salgado (como não poderia ser diferente). Essas polícias se resignaram e admitiram que não têm condições de realizar um gerenciamento eficiente de seus veículos. Pediram socorro. Minha constatação antes de ser uma crítica às policias, é uma felicitação pelo não corporativismo e humildade. Foram ao mercado e contrataram quem (teoricamente) sabe fazer melhor. A princípio, uma decisão lógica. A crítica que poderia ser feita é de que custa muito caro. No entanto, se formos quantificar o custo social de ocorrências não atendidas, creio que se paga. Quem vive no contexto policial sabe que o grande gargalo está no custeio. Em menos de um ano viaturas ficam sucateadas e falta dinheiro para qualquer pequena peça. Poderíamos nos questionar: não vai faltar dinheiro para pagar a locadora de veículos? Provavelmente, não. O que um governante mais detesta é colocar dinheiro em uma área onde ele sabe que tem desperdício e é mal gerenciada. Se pagar uma empresa significa a qualidade do serviço público, isso passa a ser prioridade e o dinheiro aparece. De qualquer forma, carece acompanhar as iniciativas para saber os resultados.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Android

Havia fortes rumores de que a Google fosse lançar um telefone celular, o que acabou por frustrar os ansiosos internautas e amantes de gadgets. O foco da Google é outro. Eles apresentaram uma plataforma aberta para desenvolver softwares em telefones celulares. Android é o nome desta plataforma. Com ela pode-se construir G-phones (Google fones). A idéia é começar a quebra a lógica atual de que cada telefone celular tem um software proprietário. Na verdade, essa lógica já vinha sendo desafiada com as iniciativas da Nokia e de outros grandes da telecomunicação (Siemens, Sony, Ericsson, Panasonic) com o sistema operacional Symbian. Para incentivar o desenvolvimento de aplicações em Android, Google lançou um prêmio de 10 milhões de dólares para quem desenvolver a aplicação mais interessante usando Android. Certamente será uma injeção de motivação nos desenvolvedores pelo mundo afora. Vejam que essa iniciativa é emblemática da maneira com que Google faz negócios. A aposta é de que em breve Google será tão importante para o mundo dos celulares como é para o mundo dos computadores (afinal, telefones são computadores, não?). Vejam abaixo o vídeo de lançamento (em inglês) de Android por Sergey Brin (um dos donos da Google).

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Mapeamento Criminal em Debate Na Escola de Saúde Pública

Na semana passada fui convidado para participar de uma mesa de debates com a Profa. Glaucíria Brasil e com o Dr. Luis Carlos Galvão médico legista de Salvador. Excelente iniciativa da Escola de Saúde Pública, pois a Segurança é um problema multidisciplinar e a área de saúde é uma das que mais sofre as conseqüências da falta de políticas efetivas na área. O Dr. Mário Mamede me disse que a cada cinco minutos chega um motoqueiro acidentado ao IJF (que não vêm só de Fortaleza). Foi igualmente uma ótima oportunidade para que eu pudesse disseminar os conceitos de mapeamento criminal e de como isso pode ser útil como ferramenta de gestão pública. A Segurança tem o que aprender com a Saúde. Desde a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), uma cultura de coleta e análise de dados se criou e hoje dados sobre o sistema de saúde são bem mais confiáveis do que os dados da Segurança. Não é a toa que muitas vezes o Ministério da Justiça recorre às estatísticas de homicídios vinda do SUS ao invés das que vêm das polícias estaduais.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Economia Criativa na FIEC

Imperdível o evento que ocorrerá na Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC na semana que vem (26, 27 e 28 de novembro) sobre Economia Criativa. Considero que esse tema, já abordado neste blog (clique aqui e aqui para ler o que foi escrito), deve fazer parte, com prioridade, das políticas públicas em todas as esferas de poder. Na verdade, o interesse pelo tema não se resume aos entes públicos. O setor produtivo já compreende que existem possibilidades interessantes de negócio que começam a surgir, pois se trata de eixo fundamental na questão da inovação. A idéia básica é criar condições de agregação de valor ao potencial criativo das atividades culturais fazendo uso de gestão qualificada, novos meios tecnológicos e marketing agressivo para atingir mercados globais. No evento da FIEC estarão expoentes nacionais e internacionais no tema que discutirão sobre assuntos diversos como a questão das políticas transversais de cultura e inovação, experiências e casos de sucesso, perspectivas de mercado, geração de empregos e renda, para citar alguns. As inscrições podem ser feitas no site (clique aqui para acessar). Aliás, vale a pena mencionar que a iniciativa do evento partiu das organizadoras do festival de Jazz e Blues de Guaramiranga e que se credenciam cada vez mais como representantes legítimas da nova cultura empreendedora e que a economia criativa requer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O Trabalho é de Nossa Natureza?

Acabei de ler um artigo no Le Monde Diplomatique edição especial sobre o trabalho. Já mencionei algumas vezes nesse blog o quanto gosto deste jornal mensal. É bem verdade que ele tem um viés de esquerda tão forte que o torna, às vezes, pouco crível. No entanto, não se pode discordar de que o mesmo possui dossiês muito bem realizados sobre temas muito pouco explorados na mídia convencional. Voltando a questão do trabalho, o jornal faz um apanhado deste conceito por diversos pontos de vista. Desde o aspecto histórico até a questão econômica e política do trabalho de trinta e cinco horas na França, todos esses aspectos são abordados. Mas a pergunta mais polêmica é: o trabalho é algo inerente a nossa natureza? Essa é a pergunta de fundo que dá o tom do dossiê e que o jornal coloca a um conjunto de entrevistados. Há aqueles que argumentam que em termos biológicos não há nada que leve a conclusão que trabalhar faz parte de nossa natureza. Eles dizem que somos talhados para não fazer nada! Trabalho só quando é necessário subsistir. Uma abordagem histórica mostra que trabalhar e dizer que isto é da natureza humana vêm sendo sempre usado pelas classes dominantes, seja através da religião, seja através de mecanismos mais elaborados que passaram a ser difundidos com a revolução industrial (mídia, por exemplo). Interessante que nesse campo, comunismo e capitalismo se encontram: trabalho é necessário e devemos louvá-lo. Karl Marx considerava o trabalho como algo da constituição humana. Nem precisa dizer o quanto o capitalismo precisa de nossa dedicação ao trabalho. Não é a toa que o no país mais rico do mundo o trabalho seja tudo (nem férias existem). Mas é bem difícil refletir racionalmente sobre o trabalho, algo que nos domina tão integralmente. Algo que nos faz sentir felizes ou tristes com uma volatilidade enorme. E aqueles que não conseguem trabalho? Podem se considerar os normais e não se sentirem desintegrados da sociedade? Claro que não, dizem outros especialistas, mais afeitos as recentes teorias que consideram o aspecto da auto-realização humana como sendo de nossa natureza e que por conseguinte, elegem o trabalho como um dos instrumentos mais importantes para atingirmos essa realização. Tudo bem discutível e polêmico. Mas, enfim, adorei a leitura desses textos e do dilema que me causou. Estive percebendo como tenho estado determinístico e racional em minhas reflexões. Há sempre conclusões conclusivas (desculpem-me o pleonasmo. Ele é intencional). Esse assunto consegue me deixar totalmente incerto. Paradoxalmente, de tão incerto, ele só serve para me levar a uma conclusão óbvia e clichê (mas sincera por ser exatamente o pensamento que me vem a cabeça) : o trabalho não é tudo.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Dirigindo em Rond Points


Rond point é o nome em Francês para os giradores ou rotatórios que encontramos em algumas cidades brasileiras. São usados para controle de tráfego em cruzamentos. Escolhi o nome em francês pelo fato deste tipo de controle de tráfego ser bem típico na França. Quando morava lá, sempre me surpreendia como o trânsito fluía bem e pude conviver com alguns giradores que possuem mais de 10 avenidas. O mais popular é sem dúvida L´Étoile (A Estrela) onde está o Arco do Triunfo (ver foto acima), e chegam doze avenidas. Isso mesmo, doze (veja o mapa acima). Mesmo nesses gigantescos, a coisa funciona (e sem abalroamentos, diga-se de passagem). Por outro lado, fico extremamente intrigado como aqui em Fortaleza somos tão “amarrados” em rond points. Decididamente é um problema cultural. E olhe que não se trata de coisa nova, por estas paragens. Parece-me que os cearenses não conseguem compreender a lógica do rond point. A idéia básica é de que normalmente se pode entrar na roda sem ter que parar. Basta reduzir a velocidade. A contrapartida dos que já estão na roda é uma direção lenta e atenta para permitir a entrada dos outros. Outra estratégia é saber se posicionar no lado interno ou mais externo da roda. Só se deve ir para o lado externo quando se quer sair da roda. Isso evita o bloqueio da entrada dos outros. Os engarrafamentos que vivenciamos nos nossos rond points demonstram nossa incapacidade de dirigir nesses instrumentos. Quase que diariamente, enfrento um desses engarrafamentos no rond point recentemente construído na entrada da BR-116 (na praça Manuel Dias Branco). Para piorar, a prefeitura, periodicamente decide colocar guardas para fazer o papel de semáforo e “controlar” o trânsito. Como era de se esperar, aí é que o negócio fica ruim. Claro. Colocar semáforos é totalmente contrário a filosofia. Não desespero. Nada que um programa de cultura cidadã não consiga mudar.

Franceses no Brasil

Estive semana passada no Rio de Janeiro participando de um workshop (nome em inglês para seminário) com pesquisadores sobre um dos temas de minhas pesquisas: simulações e negociações entre agentes de software. No entanto, não é do aspecto técnico que desejo falar nesse texto, mas de outro aspecto que me chamou fortemente atenção. Dentre os pesquisadores participantes do workshop (e outros que conheci em outras circunstâncias) havia quase uma dezena de franceses. Nada fora do normal, pois os franceses têm cientistas de gabarito nessa área de pesquisa. O que me surpreendeu, primeiramente, foi o fato de que todos falavam muito bem o português. Além disso, estavam morando no Brasil, já há algum tempo. A maioria trabalha em uma entidade chamada CIRAD (Centre de coopération International de Recherche em Agronomique pour le Dévelopment – Centro de Cooperação Internacional de Pesquisa em Agronomia para o Desenvolvimento). Trata-se de uma instituição criada para desenvolver projetos de pesquisa científica em regiões subdesenvolvidas e/ou em desenvolvimento em várias áreas de expertise ligadas a agronomia. No caso dos pesquisadores do workshop, eles eram ligados a área de meio ambiente. Pude conhecer trabalhos muito interessantes relativos a preservação ambiental seja na Floresta Amazônica, na floresta da Tijuca e mesmo de preservação da qualidade da água em bacias hidrográficas no Estado de São Paulo. Trata-se de um exemplo louvável de transferência tecnológica. Os pesquisadores franceses trazem suas experiências teóricas e, juntamente com pesquisadores brasileiros, vão literalmente a campo para a aplicação de modernas tecnologias investigadas nas Universidades e nos centros de pesquisa. Grande parte dos recursos vem da Comunidade Européia que oferece periodicamente propostas de financiamento a fundo perdido para equipes compostas de pesquisadores europeus com pesquisadores de países em desenvolvimento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cultura Cidadã e Ordenamento Urbano

Mais do que feliz os comentários produzidos na coluna política do Jornal OPovo pelo jornalista Fábio Campos em 15 de Novembro de 2007. Ele descreve o quão fácil é encontrar irregularidades na ocupação dos espaços urbanos na cidade e de como o poder público convive inerte a essas irregularidades. Seus comentários foram ainda mais felizes por ter relacionado a incapacidade administrativa com o aspecto da cultura cidadã. São exatamente esses dois aspectos que devem ser os pilares de qualquer um que se proponha a fazer administração pública. Como já tenho enfatizado em textos anteriores (digite cultura cidadã no canto esquerdo superior onde tem um espaço para texto e tecle PESQUISAR BLOG e veja todos os textos que já escrevi sobre o tema). Considero a cultura cidadã um aspecto transversal a todas as outras ações a serem empreendidas. Mas enfatizo que não se trata aqui de um discurso meramente retórico. Concomitantemente, com a cultura cidadão, e também de uma forma transversal, vislumbro um sistema de gestão moderno, profissional (baseado em servidores públicos com competência) e imune às ingerências politiqueiras. Desta forma, se pode efetivamente realizar ações que transformem a cidade. Essa transformação significa mudar o espaço físico (usando o termo cada vez mais popular da informática, o hardware) bem como a mentalidade, a cultura de nosso povo (o peopleware).

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Fórum Brasileiro de Segurança Pública em Recife

Estive esta semana em Recife participando da reunião do conselho de administração do Fórum Brasileiro de Segurança. Dentre os assuntos discutidos começamos a nos preparar para o Encontro Anual que será realizado em Março de 2008 em Recife. O governo do Estado de Pernambuco foi representado por seu vice-governador. Numa conversa muito amistosa e agradável pude constatar um mesmo sentimento que já vinha percebendo em outros governantes: há uma enorme ansiedade por soluções na área. O vice-governador, João Lyra, sugeriu que os especialistas que compõem o Fórum propusessem linhas de ações a serem seguidas pelos governos, em especial as ações que possam ser implantadas por prefeituras. Senti dele um enorme interesse de conhecer mais sobre os problemas que afligem as polícias e sobretudo sobre as soluções que podem auxiliar a reduzir a criminalidade. Ele enfatizou que o governador pernambucano, contrariando a sugestão de marqueteiros (sic), decidiu tomar para si o problema da Segurança. Percebam que uma frase desta só serve para confirmar nosso diagnóstico feito em textos anteriores que os problemas que vivemos na segurança pública nos dias atuais foram frutos desta postura omissa de nossos governantes (que ainda são, nos dias atuais, aconselhados por marqueteiros a agir dessa forma!). Felizmente, esta postura de envolvimento parece-me cada vez mais difundida na nossa política. É uma boa notícia pois é o primeiro passo para um processo de mudança. Mas é um passo muito pequeno. Por outro lado, fica cada vez mais claro o quanto estamos tateando no escuro ao tentar resolver problema tão complexo. Já escrevi sobre como o problema requer soluções multidisciplinares com ações transversais, continuidade e muita qualidade gerencial. Fortalecimento das instituições de forma que elas possam realizar suas atividades dentro de condições corretas. Tudo isso é muito abstrato, lento e dificílimo de ser implantado. Deixa políticos e mesmo cidadãos mais inquietos cada vez mais ansiosos. Mas entendam que, dada a dimensão dos problemas existentes, não há como ser diferente. Por exemplo, no mesmo instante que estávamos reunidos, eclodia uma rebelião no maior presídio da America Latina que se encontra na região metropolitana de Recife e que abriga mais de 4000 detentos (onde só há vaga para 800!). Dá para perceber o tamanho do problema, não? Se lamentar e se queixar porque se chegou a esse ponto não adianta de nada. Há que se construir mais presídios e que os mesmos sejam feitos dentro de condições que permitam ações de ressocialização e tratamento digno aos detentos, mas ao mesmo tempo possuam mecanismos de controle e segurança rigorosos. Isso é lento, requer planejamento além de requerer contratação de pessoal qualificado e bem remunerado que deverá assumir os novos postos de trabalho. Por mais bem intencionado que seja o governante, em um só mandato é impossível resolver o problema definitivamente. Por isso insisto tanto que temos que pensar em soluções em longo prazo e que tenham continuidade independentemente de mudanças governamentais.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

As Oportunidades e Desafios do Desenvolvimento de Software Off Shore

Em julho escrevi sobre os desafios do desenvolvimento de software off shore (ver aqui o texto). Só lembrando, este termo refere-se à prática de empresas terceirizarem algumas de suas atividades em países onde o custo do serviço é reduzido. O desenvolvimento de programas de computadores, os serviços de telemarketing e mesmo as atividades ditas Back Office (contabilidade, logística, cobranças, etc.) são exemplos de serviços que cada vez mias passam a ser exercidos na modalidade off shore. Esta semana tomei conhecimento de um relatório recente produzido pela empresa de consultoria AT Kearney que faz uma análise de que países têm mais potencial para atrair investimentos em serviços off shore. Os quatro primeiros colocados continuam sendo asiáticos com Índia e China encabeçando a lista nessa ordem. A grande novidade é o Brasil que era o décimo colocado em 2005 e, agora em 2007, é o quinto. A análise da AT Kearney baseia-se em três critérios: financeiro, pessoal e ambiente de negócios. No aspecto financeiro se analisa o custo da mão-de-obra, impostos e outros fatores que afetam o custo do serviço. Quanto ao aspecto das pessoas, busca-se analisar a qualidade da mão-de-obra como no nível de fluência em diferentes línguas, a quantidade de pessoas com nível superior e indicadores de educação básica em geral. Por fim o critério referente ao ambiente de negócios analisa o quanto o mercado local é regulado, quão sólidas são as instituições governamentais, inclusive o judiciário e a lei de falência, quão presente é a cultura de proteção de direitos autorais (antipirataria) e outros fatores que podem tranqüilizar ou preocupar um investidor externo. Ao analisar os índices brasileiros para esses critérios fica evidente que o nosso grande desafio refere-se à pessoal qualificado. O Brasil tem uma grande desvantagem no que se refere aos serviços de telemarketing que é a língua. Mesmo grandes conglomerados latinos não consideram o Brasil o primeiro alvo para investimento, pois preferem países de língua espanhola. Esta é uma das razões pela qual o desenvolvimento de software passa a ser o setor mais promissor. O Brasil já tem uma história no setor, mas sofre da carência de pessoal em quantidade que venha a abastecer as demandas do mercado internacional que são grandes. Esse tinha sido exatamente o diagnóstico que tínhamos feito no texto anterior supramencionado, em particular, quando nos referimos ao contexto cearense. Infelizmente, deficiências desta ordem não são rapidamente sanadas. Pode-se até construir prédios, fornecer banda larga e dar incentivos fiscais. Formação de pessoal, no entanto, demanda tempo. Melhor começar logo!

domingo, 11 de novembro de 2007

Vamos Andar em Guaramiranga!

Na minha visita fim-de-semana passada à Guaramiranga além da possibilidade de conviver com o mundo das corridas de fundo (veja texto aqui), pude visitar novamente a cidade depois de quase dois anos. A última vez tinha sido antes de minha ida ao pós-doutorado na Califórnia. Nessas últimas duas vezes tivemos (Beth e eu) o prazer de ser ciceroneado por casais amigos e capazes de recepções bem calorosas (muito embora no frio). Silvia e Tonguinho, Ana e Cláudio, e Ruth e Alberto são responsáveis por nossa imagem agradável e sempre nostálgica de Guaramiranga. No entanto, não posso deixar de demonstrar minha indignação com um aspecto na cidade que me salta os olhos. Presenciei um exemplo marcante de como estamos indo na contramão do mundo no que se refere ao uso dos espaços das cidades pelas pessoas com automóvel. O centro charmoso de Guaramiranga possui uma praça cortada por uma rua principal e circundada por outra via. Nele estão restaurante, bares, teatros onde se concentram os principais eventos da cidade. A passagem de carros é permitida nas duas vias, embora durante alguns eventos, a rua principal seja fechada aos veículos. Na via secundária além do tráfego é permitido o estacionamento de carros que se amontoam nas calçadas e o tráfego é confuso e muitas vezes impossível. É um claro exemplo de falta de planejamento urbano. Um projeto de reordenação com a criação de estacionamentos públicos ao redor da praça e com a completa proibição de estacionamento na via secundária não é, de forma alguma, difícil de ser feita. A via principal deveria ser totalmente dedicada aos pedestres. As distâncias na cidade são muito curtas e os percursos entre os restaurantes, principalmente os do centro é curtíssimo. Vale lembrar ainda que os efeitos deletérios desse desordenamento não se resumem ao caos do trânsito, mas igualmente a poluição em todos os níveis, que, em se tratando de Guaramiranga, é devastador. Há que se induzir a descoberta da cidade a pé. Aliás, caminhar na cidade com seu clima ameno é um dos charmes que todo visitante deveria conhecer. Temos muito que aprender com os países europeus que são habituados a proteger seus pequenos vilarejos dos carros e da ocupação desordenada. Para exemplificar, lembrei-me de duas cidades francesas que seguem a mesma filosofia de controle do tráfego de veículos. Uma cidade que me foi lembrada por um amigo e que tive a oportunidade de visitar várias vezes na França foi Baux de Provence(veja o site oficial da cidade aqui). Uma cidadezinha charmosa construída em cima de uma grande rocha. Os visitantes quando chegam à cidade são levados a um estacionamento onde deixam o carro e podem conhecer a cidade a pé. Outra cidade, também na Provence (interior do sul da França) que segue a mesma idéia é a cidade histórica medieval Le Castellet (acesse o site do Castellet clicando aqui). Vejam que essas cidades já são estruturadas desta forma há mais de 10 anos. Teria inúmeros outros exemplos de projetos em que os cidadãos são privilegiados em detrimento aos carros. Nosso subdesenvolvimento nessa área é patente.

sábado, 10 de novembro de 2007

Pop Rock com Phil Collins

Estou mudando um pouco o estilo da rádio personalizada ao lado. Depois do Jazz com Lizz Wright e FourPlay vou passar para algo mais "popular". Um pouco de rock com Phil Collins. Abaixo posto um vídeo deste artista em um concerto em Paris. Cantando "take me home" ele consegue entusiasmar a multidão (olhe que entusiasmar francês não é muito fácil!). No começo do vídeo ele demonstra sua habilidade na bateria. Aliás para os amantes deste instrumento, no mesmo concerto há um solo de bateria que também vale a pena ver (clique aqui para acessar): Phil Collins on the drums.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Cooperação Empresa com Universidade: Porque é Tão Difícil?

Há alguns dias atrás participei de uma reunião promovida pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia que tinha o objetivo de aproximar as empresas de Tecnologia da Informação (TI) do Estado às Universidades e a seus laboratórios de pesquisa. A metodologia empregada foi a de que cada laboratório exporia seus projetos e potencialidades para que os empresários pudessem identificar interesses em cooperação. As apresentações dos laboratórios me foram muito úteis, pois não conhecia o que estava sendo feito em boa parte deles. Principalmente os laboratórios da UFC do departamento de teleinformática. Embora necessária, a efetividade da aproximação Universidade-Empresa através de um maior conhecimento de suas competências é somente a ponta do iceberg. Creio que podemos olhar para o problema sob dois pontos de vista. Primeiro, há uma questão financeira. Pesquisas científicas requerem investimento, não são baratas e não dão resultado a curto prazo. Em se tratando do mercado cearense, que é majoritariamente formado por pequenas e médias empresas, recursos privados para pesquisas não são de forma alguma fáceis de serem obtidos. A margem de manobra das empresas é pequeníssima e ainda por cima, não custa lembrar, pesquisa embute um risco que as empresas quase nunca se sentem confortáveis em bancar. Depende-se assim fortemente de uma política governamental de indução a cooperação e que envolva recursos públicos. Os recentes investimentos do Governo Federal em subvenções econômicas às empresas privadas é um exemplo de como isso pode ser feito. O outro ponto de vista refere-se ao aspecto metodológico de como a cooperação pode ser feita efetivamente. Nesse aspecto, considero que a forma mais efetiva de cooperação deve envolver sempre que possível a imersão do pesquisador dentro da Empresa. Ele precisa conhecer o negócio da Empresa, suas potencialidades e seus problemas. Isso é fundamental porque a descoberta de um problema (em termos científicos) é uma das etapas cruciais do processo de pesquisa. Tenho visto muito freqüentemente os empresários buscarem na academia soluções para problemas que os mesmos identificam nas suas Empresas. Em sua grande maioria trata-se de problemas que podem ser resolvidos com a adoção de uma tecnologia adequada. Não deixam de ser importantes para a Empresa e podem otimizar suas operações, mas não se caracterizam como problemas de pesquisa e que, ao serem resolvidos, podem dar um diferencial competitivo significativo. Já mencionei em texto anterior (acesse-o clicando aqui) como algumas empresas estão criando um conselho de ciência e tecnologia e colocando pesquisadores acadêmicos para fazer parte do mesmo. Se provermos soluções para os problemas apresentados sob essas duas óticas, a aproximação será muito mais fácil. Na verdade, sou bem otimista quanto a essa aproximação, pois é exigência do mercado globalizado. Vale a lembrança do que também já mencionei no mesmo texto supra-referenciado. O maior motor de indução da aproximação universidade-empresa é a competição do mercado que vai exigir inovação em todos os níveis das organizações. Quem não investir nisso, não sobreviverá muito tempo.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Carteira de Identidade: Será Mais Uma Idéia Estragada?

A carteira de identidade é o documento mais importante do cidadão. A premissa básica da sua existência é de que ele serve para garantir a unicidade de uma pessoa. Ou seja, de que o cidadão é ele mesmo e que não há ninguém mais com aquelas características físicas. A verificação dessa unicidade é feita através da checagem da impressão digital pelos técnicos do Instituto de Identificação. Esse técnico, chamado de papiloscopista, desvenda as características das impressões digitais para que uma pessoa não possa retirar uma carteira duplicada ou com outro nome. O grande problema de boa parte dos Institutos de Identificação no Brasil é que, com o crescimento populacional, o volume de impressões digitais cresceu muito e a verificação técnica manual, em fichas impressas, ficou cada vez mais demorada. A entrega de uma carteira em alguns locais do país chega a demorar mais de um mês. Nossos governantes no afã de dar uma resposta ao cidadão decidiram promover o acesso a carteira com mutirões de serviço público e com a criação de centrais de atendimento tipo casas do cidadão. Exigiram agilidade na entrega de forma que a carteira fosse entregue, se possível, imediatamente. Essa agilidade acabou vindo, mas com um ônus bem precioso: a perca de confiabilidade da carteira. Para que as carteiras fossem entregues imediatamente, em muitos locais do Brasil, praticamente se extinguiu a verificação da impressão digital. De uma forma geral, a população não sentiu o problema, muito pelo contrário, por desconhecimento, aprovou as medidas de agilidade do atendimento. Os sistemas informatizados de impressão digital começaram a surgir no mercado e vieram trazer um novo alento para que a carteira pudesse novamente ser tirada com confiabilidade e em prazo aceitável. Foi seguindo essa direção que o Instituto de Identificação do Estado do Ceará implantou recentemente um novo sistema de emissão de carteiras de identidade. Ele traz algumas melhorias como o fato do cidadão não precisar mais pagar a foto, pois a mesma é tirada diretamente pelos computadores do Instituto, e o fato de que as impressões digitais e as assinaturas serem coletadas por equipamentos eletrônicos o que permite a digitalização e o tratamento dessas informações pelo computador. Mesmo como essas melhorias a entrega da carteira, durante um bom tempo, não poderá ser feita imediatamente. Enquanto todo o banco de dados de impressão digital não estiver no sistema novo, a entrega de uma carteira confiável deve exigir pelo menos cinco dias úteis. Creio que esse tempo é aceitável, desde que, evidentemente, a população estivesse informada do porque da espera e dos benefícios de tê-la. Aqui começam os problemas. Não houve nenhum trabalho de comunicação com o cidadão na mídia de forma que se compreendesse a nova sistemática. Além disso, a quantidade de atendentes do Instituto de Identificação é bem menor do que a necessária para atender a todos os pedidos e, por isso, filas enormes se formam diariamente. O número de papiloscopistas também não é suficiente e o prazo de cinco dias não vem podendo ser cumprido. Presenciei a implantação do novo sistema no Instituto de Identificação e verifiquei que urge um investimento nesses setores e também uma reformulação nos processos de atendimento permitindo a realização de marcação de atendimentos e a realização de procedimentos pela Internet. Como essas coisas não acontecem rapidamente, vemos, de mais em mais, opiniões de que o sistema de identificação é ruim e que outro precisa ser adquirido. Nem se passaram seis meses de implantação e já se corre o risco de mais uma boa idéia ser estragada.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Carreiras e Corridas

Estive neste fim de semana em Guaramiranga participando de uma corrida de longa distância que me permitiu conhecer mais intimamente o ambiente que envolve essa prática que vem se propagando fortemente no Brasil, em especial, em Fortaleza. Experimentei o sentimento que move os entusiastas e pude refletir sobre alguns aspectos que me parecem interessantes deste contexto. Mesmo não sendo muito afeito a modismos, reconheço que neste caso, em particular, só identifiquei benefícios. Obviamente, o maior deles refere-se aos impactos positivos na saúde dos esportistas, conseqüência direta da prática de esporte. Impossível não sublinhar que os aspectos estéticos, por serem tão cultuados em nossa sociedade (veja texto sobre isso aqui), também se constituem resultado e motivação, principalmente nas mulheres que, aliás, comparecem em grande massa. Ao buscar aprofundar a busca de por que desta febre maratonista, identifica-se que as corridas de longa distância têm algumas características bem peculiares e que potencializam sua popularidade. Elas não requerem equipamento nem local especiais para sua prática. São ainda extremamente democráticas, pois todos podem praticá-las: congregam tanto homens como mulheres, profissionais e amadores, jovens e velhos, e de qualquer classe social. Não exigem dos eventos maiores preparações nem tratamentos diferenciados. Poucos esportes podem, por exemplo, realizar uma competição com todas as categorias juntas em um mesmo local e ao mesmo tempo. Vi muitas famílias correndo juntas, com pais e filhos e até avôs participando. Esta diversidade favorece sentimentos de companheirismo e fair-play emocionantes. Os corredores se ajudam e dão força uns aos outros. Nos treinamentos semanais os mais dedicados se juntam em grupos e formam equipes. Nutrem-se assim do componente social que originalmente não está presente na corrida que é eminentemente um esporte individual. A competição (estritamente falando) se restringe aos profissionais que disputam os primeiros lugares. A grande maioria dos corredores está buscando competir consigo mesma. Buscam quebrar seus próprios recordes e limites. O público que acena e aplaude em todo o trajeto dá ainda outro tempero especial ao evento. O segundo aspecto que me saltou os olhos foi de como esses eventos esportivos estão se tornando um negócio lucrativo. Não me refiro exclusivamente ao negócio para aqueles que promovem as corridas, mas principalmente às cidades onde elas se desenrolam: o negócio do turismo esportivo. Os esportistas se articulam para participar das corridas e para conhecer os sítios onde elas se desenvolvem. Essa prática já era habitual quando se falava das grandes e tradicionais corridas como as de New York e São Paulo (São Silvestre). Com a popularização das corridas e com o aumento do número de praticantes, há um nicho a ser explorado pelas cidades de outros portes. O evento deste fim de semana em Guaramiranga demonstrou isso muito claramente. Mais de quatrocentos corredores levaram, certamente, pelo menos o dobro de pessoas à cidade. Trata-se assim de uma ótima oportunidade para as cidades que querem expor suas potencialidades. O momento atual é de euforia dos praticantes e o número de adeptos cresce diariamente. Mesmo após um recrudescimento, que me parece normal que aconteça, com perdão do trocadilho: há carreira nas corridas!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Ducentésimo

Os números são símbolos e é comum nos referirmos aos mesmos como marcos de momentos importantes de nossa vida. Não vou fugir a essa regra. Esse texto é o de número 200 deste blog. Penso se tratar um marco. Vejam o que foi escrito no meu primeiro texto, quando ainda estava na Califórnia.

Decidi criar meu blog. Depois de algum tempo relutando se deveria fazê-lo, decidi começar. Vários fatores me fizeram relutar. Creio que minhas dúvidas são as de muitos outros ao iniciar: será que alguém vai ler? Será que terei fôlego para manter a interação? Terei fôlego para mantê-lo atualizado? Custou um pouco para perceber que estas perguntas não tem muito sentido. Não tenho obrigação com ninguém, e por isso mesmo não tenho obrigação de mantê-lo atualizado nem de responder a todos que me interroguem. Além disso, não me cobro ter coerência em tudo o que digo, nem estar correto sempre. Escreverei com o nobre sentimento de puder dizer o que sinto e o que penso. Sem ambições, nem pretensões. Só pelo prazer de falar e quiçá de conversar. Vamos ver no que vai dar.”

Pois bem, fazendo um balanço destes quase 11 meses de blog, não me canso de dizer como foi e está sendo uma das experièncias mais enriquecedoras que já tive. Há evidentemente o prazer de escrever e o prazer de estar interagindo. Sinto que tenho uma audiência cativa e uma eventual como todo blog. No entanto, o mais interessante é que percebo um efeito colateral que certamente mudou minha maneira de ser. Passei a observar mais o mundo ao meu redor. Tudo merece mais minha atenção. Creio que estou escutando mais também. Estou sedento por mais informações e opiniões. Sempre gostei de aprender e estudar, mas agora, estou invadido por um sentimento de aprender de tudo, por todos e em todas as circunstâncias. Meus receios de não ter fôlego para manter o Blog não existem mais. Enfim, aos que me seguem, obrigado pela participação e vamos em frente rumo 400.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Idéias Criativas e Culturais: Impacto no Social e sustentabilidade

Retorno a questão das indústrias criativas (ver texto anterior sobre o assunto aqui) para discorrer sobre algumas iniciativas brasileiras nesse contexto. Primeiramente, vale ressaltar a Garimpo de Soluções que conheci no site da creativeclusters (veja texto aqui). Trata-se de uma ONG capitaneada pela administradora e doutoranda em arquitetura e urbanismo Ana Carla Fonseca. Ela é autora do livro Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável. Neste livro ela utiliza uma linguagem fácil e acessível para introduzir os conceitos relacionados a esses dois temas e descrever vários casos de sucesso em todo o mundo. Discorre, por exemplo, como a cultura tornou-se estratégia de política pública em vários países do mundo. Mas não é somente de iniciativas fomentadoras ou educadoras que quero falar. Gostaria de mencionar dois felizes exemplos de indústria criativa no Brasil e que vem daqui do Ceará. A primeira trata-se do Balé Edisca a quem já destinei um espaço particular nesse blog (clique aqui para acessar o texto). Na época de sua criação, o conceito de indústria criativa ainda não estava sedimentado nem disseminado. Talvez por essa razão a trupe não tenha sido batizada como tal. No entanto, congrega a criatividade advinda da música, da dança e da ginga brasileira, apimentada com a visão social que levou a busca por crianças carentes para serem os artistas da cena. Já se tornou uma referencia no Brasil e é um produto mundial com possibilidades de vendas para o mercado global. A outra iniciativa é o festival de Jazz e Blues de Guaramiranga. Esse festival mudou a face de Guaramiranga nos normalmente atribulados dias de carnaval. Músicos de renome internacional revezam-se no placo com pequenas bandas regionais que muitas vezes têm suas primeiras oportunidades de tocar em público. Além do aspecto musical, uma série de atividades ecológicas compartilham os espaços públicos com os músicos. Já está no calendário cultural nacional e mesmo mundial. Por fim, queria mencionar o afroreggae. Uma iniciativa cultural e que tem um impacto enorme na redução da marginalidade de jovens.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Segurança Pública: O Discurso Está Convergindo, As Ações Ainda Não

Ao assistir a entrevista do sociólogo e ex-secretário de Segurança Pública de Bogotá Hugo Acero no Roda Viva ontem a noite tive sentimentos antagônicos. Primeiro, veio–me a esperança de que estejamos avançando na luta contra os problemas de segurança no País. Digo isso porque me parece claro que de tanto se falar e debater, as idéias básicas do que deve ser feito na Segurança já começam a se cristalizar. O discurso de Acero foi sereno, inteligente e bem claro. Nada de soluções extraordinárias e mágicas e boa parte das propostas que ele apresentou e que foram aplicadas em Bogotá são fortemente convergentes com o que já temos apontado neste blog. Em síntese, deve-se compreender que não há solução sem o fortalecimento do poder público tanto nas medidas preventivas e de ações sociais como nas medidas repressivas com a profissionalização da polícia e a qualificação no judiciário. Já se sabe que o debate prevenção vs. repressão não tem o menor sentido (ver texto aqui), a continuidade das políticas é essencial (ver texto aqui), medidas de impacto como forças armadas nas ruas e endurecimento da polícia não resolvem definitivamente, policiamento inteligente com mapeamento criminal deve prevalecer, sistema punitivo com penitenciárias de segurança máxima e com penas alternativas para crimes de menor potencial ofensivo, qualificação policial, etc. Enfim, nada de extraordinário nem fortemente impactante como muitos esperam e clamam. Alguém poderia indagar: “ficar feliz com tão pouco? E os resultados?”. Pois bem, acho que só o fato do discurso estar convergindo pode ser considerada uma boa nova. E olhe que ainda há muita gente querendo “inovar” e achar a grande solução (veja texto sobre isso aqui). Mas como disse no começo do texto, há outro sentimento que não me deixa ficar muito entusiasmado. Se as idéias começam a convergir, não podemos dizer o mesmo das ações na direção de implantá-las. Já tinha mencionado em outros textos de nossa incapacidade de resolver os problemas por algumas deficiências gerenciais (quase culturais) crônicas (veja texto aqui). Há boas iniciativas em vários locais do País e me parece que essas iniciativas têm aumentado. Nada, no entanto, que possa me indicar que se tratam de mudanças perenes. Digo isso porque creio que nossa incompetência nos três itens seguintes ainda é muito impactante: i) não conseguimos realizar ações integradas inter-esferas de governo; i) não temos planos de governo que sejam respeitados por diferentes governantes e assim não conseguimos dar continuidade às boas políticas e, iii) não realizamos planos de governo que busquem ações transversais e multidisciplinares para resolver problemas complexos. Vejam que o título deste texto embute meu otimismo quando digo que as ações “ainda” não convergiram. Certamente convergirão. O quanto teremos que esperar, é o que não me arrisco a responder.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Material Didático e Ideologia

O projeto de modernização do “Governo das Mudanças” não beneficiou a maioria da população. Muitos reclamavam da fome, da falta de moradia, desemprego, carência de assistência médica, aumento da violência, falta de escola pública de qualidade e alimentação básica. Apesar das mudanças, o governo centralizou o poder político e favoreceu a concentração de renda A quantidade de pessoas morando e trabalhando nas ruas cresceu. O número de crianças trabalhando aumentou e, mesmo com a ampliação das vagas nas escolas públicas, a qualidade do ensino não melhorou”. Você sabe de onde vem esse texto? Do livro didático de história Construindo o Ceará que é usado no Colégio Christus para alunos que em média têm nove anos de idade (dentro os quais minha filha mais nova faz parte). Esse texto levou-me a duas reflexões. O primeiro ponto a se refletir é, obviamente, sobre o conteúdo da informação veiculada no livro. Não quero entrar no mérito pontual de cada afirmação, mas não creio que seja difícil concordar que elas são no mínimo discutíveis. Apresentá-las de uma forma tão afirmativa para uma audiência com baixo poder de crítica, acho por demais cruel e injusto. Baseado em que estudo pode-se dizer que o projeto de mudanças não beneficiou a maioria da população? Sob que ponto de vista? A qualidade da educação piorou em relação a que época? Ora, se havia um contingente enorme de jovens que nem freqüentavam a escola e que passaram a fazê-lo, principalmente a partir de 1997, como se pode dizer que a qualidade diminuiu? Somente em relação ao ensino médio, o incremento em dez anos foi de 179%! Esses alunos tinham nível melhor quando estavam fora da escola? No próprio período do governo das mudanças verificou-se mudança nos índices de qualidade da educação. Tive acesso a alguns dados do Sistema de Educação Básico coordenado pela Secretaria de Educação que mostram índices bem contraditórios com a afirmação feita no livro. A taxa de abandono, por exemplo, reduziu 4% em 10 anos. O índice de reprovação também diminuiu cerca de 20%. Poderia discordar de todas as afirmações feitas no texto. Não se trata aqui de dizer que não tenha havido deficiências do governo das mudanças. É claro ainda que o nível de nossa escola pública está longe de ser aquela que queremos. Só acho que a forma como as informações foram colocadas é claramente tendenciosa. Caberia uma linguagem que tivesse o objetivo de gerar reflexões nos alunos. Colocar as coisas de forma mais contextualizada, apresentando mais informações e que as mesmas pudessem levá-los a tirar as próprias conclusões, se não agora, no futuro. Deve-se mostrar as crianças que as carências de nosso Estado são muito grandes e se acumularam com o tempo. Mesmo se algumas melhorias são feitas elas não são suficientes para erradicá-las. Mostrar que se cada governo der sua contribuição, teremos certamente um futuro melhor. É essa a mensagem que tenho tentado passar a minha filha. Infelizmente, tenho ainda outra mensagem a passar que não achei que seria necessário: sou obrigado a alertá-la que o material didático que usa não é tão confiável e que procurar diversas fontes e perspectivas sempre vai auxiliar na sua formação. A segunda reflexão que o texto me levou refere-se à falência de nossas instituições públicas como já mencionei em alguns textos passados neste blog. Seria responsabilidade do Conselho Estadual de Educação avaliar e validar o uso do material didático a ser usado pelas escolas. Será que isso é feito a contento?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Estrago de Boas Idéias

Já tinha mencionado nossa incapacidade de implementar boas idéias no contexto da tecnologia da informação na segurança pública (clique aqui para acessar o texto) . Na verdade acredito que temos, enquanto país, uma baixa capacidade de realização que chega a ser traumática. Somos uma sociedade que privilegia fortemente a concepção de idéias, mas pouco a realização destas. A conseqüência disso é um constante estado do que chamo de “estrago de idéias”. Ou seja, idéias que são boas, mas por não serem corretamente implementadas acabam sendo estigmatizadas. No contexto da Segurança Pública do Ceará, presenciei em alguns momentos essa situação. A mais marcante delas se refere ao CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança). Fui o idealizador e coordenador do projeto CIOPS no Ceará. Um dos pioneiros no Brasil, até hoje ele é referencia nacional, pois contempla uma série de ferramentas que trazem qualidade e transparência à gestão. O CIOPS grava todas as ligações de pedido de socorro feitas pelo cidadão. Pode-se verificar imediatamente se o atendimento foi correto ou não. Um moderno sistema de computador registra o tempo de atendimento em um alto e variado nível de detalhe. Sabe-se claramente quanto tempo se levou para chegar na ocorrência. As viaturas de patrulha também são monitoradas por satélite e acompanhadas em um mapa digital dentro do microcomputador de cada policial que realiza o despacho e coordenação das viaturas na rua. Antes da implantação do CIOPS era muito comum o cidadão ligar para o 190 e este número estar ocupado. Com o CIOPS a capacidade de atendimento aumentou significativamente. Poderia descrever muito mais. Quase todos os Estados da federação vieram conhecer o modelo do CIOPS do Ceará e nele se inspiraram para a criação de seus centros. Era de se esperar que fossemos orgulhosos de nossa criação, não? Infelizmente, esse não é sempre o caso. Freqüentemente, escuto críticas a atendimentos realizados (ou deixados de serem realizados) pelo CIOPS. Não me parece que se esteja utilizando todo o potencial que o CIOPS tem e muito menos estejam sendo dados os recursos necessários para tal. Há claramente uma situação de “estrago da idéia”, pois os problemas apontados são sempre de operacionalização da polícia em si. Por exemplo, em um final de semana cerca de 30% das chamadas de atendimento não são atendidas por falta de viaturas. Impossível manter uma boa idéia com tamanha deficiência. A idéia-mor do CIOPS é a de um completo sistema gerencial que dá apoio às ações policiais. No entanto, ele não substitui o trabalho da polícia. Mágica não dá para fazer.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Second Life

Semana passada participei de algumas apresentações dos alunos do Mestrado em Informática Aplicada da UNIFOR sobre o Second Life (SL). Trata-se de um jogo onde há um mundo virtual com cidades, bancos, escolas, cinemas e tudo mais. Os espaços físicos são divididos em ilhas. Os avatars (bonecos que habitam o mundo virtual e são pilotados por pessoas) vivem nesse contexto e interagem com outros avatars. É como se as pessoas pudessem ter uma segunda vida (por isso o nome do site). Eu já tinha escrito sobre o SL e avatars em Março (veja o texto aqui), mas as apresentações dos alunos serviram para me alertar de novas coisas deste cenário inovador. Os brasileiros estão descobrindo o SL e muitas empresas estão se instalando lá. O SENAC – promove cursos de como criar avatars e objetos virtuais no SL (alguns cursos são de graça). A ilha vestibular Brasil congrega mais de vinte faculdades brasileiras num espaço de 130km2. A maioria delas é privada e se instalaram no SL por uma iniciativa da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior). Cursos à distância começam a ser ministrados. Os bancos também já se instalaram. Neste mundo virtual pode-se conseguir emprego real. Como os avatars precisam de pessoas que os manobrem, é comum se encontrar proposta de emprego para ser um atendente de uma loja virtual ou mesmo para ser ajudante de avatars de usuários iniciantes. Todo o comércio no SL é feito em Linden que é o nome do criador do jogo. Os usuários devem comprar Lindens para fazer comércio no SL (um dólar equivale a 220 Lindens). Atualmente o marketing é a maior motivação para participação das empresas no SL. Algumas fornecem bônus para que os avatars visitem as ilhas onde estão instaladas. A Globo, por exemplo, paga periodicamente alguns Lindens para avatars se sentarem em cadeiras perto de um grande logotipo global. Só com o interesse de agregar visitantes em torno de seu símbolo. Algumas faculdades dão cinqüenta por cento de desconto se inscrição feita pelo SL. Encontra-se de muita coisa curiosa. Pode-se voar e se tele-transportar para qualquer ilha do mundo virtual. Dá para sair de Copacabana diretamente para a Torre Eiffel para conversar com um avatar francês. Uma das mais interessantes situações que vi foi um avatar que era uma bailarina de rua. A bailarina ficava dançando numa praça, mas o usuário só escutava a música que estava tocando se pagasse alguns Lindens. Trata-se de uma situação interessante, pois é algo que não se pode ter na vida real. De mais em mais se presencia depoimentos de pessoas que escolhem o SL ou como hobby ou mesmo como empreendimento. Soube de um lixeiro na vida real que a noite se tornou um comerciante no mundo virtual do SL. Não tenho certeza que SL pode continuar crescendo se a proposta for unicamente de marketing. Acho que aplicações com caráter social deverão surgir como novas formas de educação. De qualquer forma, atualmente a tendência no Brasil é de crescimento. Vale a pena fazer uma visitinha.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Assisti ao filme Tropa de Elite na semana passada (no cinema!). Como obra de entretenimento acho-o muito bom. O roteiro é bem feito e a idéia de começar a contar a estória da metade e depois continuá-la no meio do filme, mesmo não sendo nova, teve resultado surpreendente. A câmera é ótima, dinâmica, captura bem as incursões às favelas o que traz realismo e mantém a atenção do espectador. O elenco é bom muito embora Wagner Moura esteja em um patamar bem superior aos outros. Não o conhecia e fiquei surpreso com a sua versatilidade. Consegue até fazer rir em um filme tão trágico. Acho que Tropa de Elite inscreve-se com louvor na lista das recentes boas produções brasileiras que vêm mostrando que temos condições de ter um cinema tão rico como nossa música. O segundo aspecto a se analisar é sobre o quanto o filme contribui ao problema da Segurança Pública no Brasil. E sobre esse ponto a complexidade da análise é muito maior. Evidente que somente pelo fato de trazer as mazelas do setor às claras, já o faz muito importante. O filme mostra duas alternativas ao protagonista Capitão Nascimento interpretado por Wagner Moura (que seriam as mesmas apresentadas a todo policial): ou se é corrupto e omisso ou se é íntegro, violento e age seguindo a filosofia de que os fins justificam os meios. Ao fazer isso o filme apresenta uma armadilha ao telespectador menos atencioso e desconhecedor da questão da segurança. Passa-se a acreditar que não há outra alternativa e que, sendo assim, a escolha de ser um policial em “guerra” é a mais digna e louvável. Não surpreende quando soube que recentemente os soldados do Bope (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro foram aplaudidos quando se exercitavam na Praia de Copacabana. A opção da legalidade, da qualidade, da inteligência e do respeito às leis não é colocada no filme. Na verdade, ela é esboçada quando Matias o policial negro é mostrado como um estudante de direito e que sabe fazer mapeamento criminal. Só que a cruel realidade acaba com todas as esperanças. Não se pode criticar o filme por isso. Busca retratar uma situação caótica (mesmo que um pouco caricaturada ao meu ver) e propor soluções seria por demais arriscado e até mesmo prepotente. Um outro aspecto relevante do filme é a forma como os valores morais dos personagens são apresentados e em particular dos jovens de classe média alta. Eles são engajados em movimentos sociais, inseridos nas favelas, mas coniventes com o domínio dos traficantes e ainda se apresentam como alimentadores de um sistema corroído por serem consumidores de droga. Novamente, há aqui uma escolha deliberada de mostrar os personagens como tendo seu lado bom e ruim. Ironicamente, esse alarme de como os valores morais da sociedade estão deteriorizados ocorreu até na distribuição do filme quando se derramou cópias piratas, inclusive dentro das própias corporações policiais. Em resumo, Tropa de Elite dá muito assunto para discutir e vale a pena assistir (no cinema é claro!). Só queria recomendar que não nos esqueçamos que da mesma forma que o problema da segurança é complexo, as soluções também as são. Há que se acreditar e buscar implementar, não somente uma terceira opção que não existe no filme, mas uma quarta, uma quinta e tantas outras que busquem o respeito às instituições, às leis e à dignidade humana.